Uma dor sem fim

Notícias 9 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 5

A vila de Batnaya esteve nas mãos dos jihadistas durante três anos. Uma ocupação que começou em 2014. Os terroristas destruíram quase tudo. Nem a Igreja escapou. A população teve de fugir. O Padre Salar foi o primeiro a entrar nas ruínas da Igreja de São Qiryaqosh depois da libertação da vila, já este ano. Ao fim de 10 minutos teve de sair. Não aguentou ver tanta destruição…

 

Batnaya é uma vila pequena, situada perto de Mossul, no Iraque. Em Agosto de 2014, viviam por lá cerca de 800 famílias. Hoje é um povoado deserto. As ruas, as casas, os destroços e as ruínas são o testemunho silencioso do violento furacão que passou por ali. Um furacão chamado “Estado Islâmico”. O Padre Salar Kajo, de 35 anos, foi das primeiras pessoas a regressar a Batnaya desde que os jihadistas foram expulsos da região, já este ano. A sua preocupação principal era saber como estaria a Igreja de São Qiryaqosh, a igreja paroquial Caldeia de Batnaya. No caminho, começou a preparar-se para o pior. E quando entrou no templo, ficou chocado. “Fui o primeiro a entrar, não havia Cruz.” Por todo o lado havia, sim, sinais da presença dos terroristas, da profanação da igreja. “A bandeira do Daesh (o auto-proclamado Estado Islâmico) ainda estava hasteada – recordou, numa entrevista, à Fundação AIS. Retirei a bandeira e levantei a Cruz.” O Padre Salar Kajo ficou estupefacto com a dimensão da destruição, com a falta de respeito dos terroristas por aquele lugar sagrado. “Escreveram frases do Corão nas paredes e praticaram tiro ao alvo no Santuário.” Nada escapou à fúria da maldade, ao ódio sem limites. “É muito doloroso. Fiquei na igreja 10 minutos, não mais. Depois saí, porque não reconhecia a minha igreja…” O regresso a casa para as populações de Batnaya é ainda uma incógnita. Todos querem voltar mas todos têm medo do que vão enfrentar. O Padre Salar tem consciência de que os próximos tempos vão ser duros, muito duros, e só com a ajuda constante da comunidade internacional, só com a ajuda concreta de instituições como a Fundação AIS será possível a estas pessoas reconstruírem as suas casas, refazerem as suas vidas.

 

Sem escolha

O Padre Salar Kajo guarda na sua memória tudo o que tem vivido desde esse fatídico mês de Agosto de 2014 quando a fúria jihadista atravessou a região como se fosse um ‘tsunami’ gigantesco. Tal como todos os habitantes de Batnaya, também ele teve de partir apressadamente, levando consigo apenas a roupa que trazia vestida. O Padre Salar conhece como poucos a realidade iraquiana. Sabe que os tempos são delicados e que o futuro é uma incógnita. “Os Cristãos não têm escolha”, diz. “Se quisermos libertar o Iraque, o Ocidente e o Oriente do Daesh, dos terroristas, temos de trabalhar as mentalidades. Os verdadeiros Cristãos têm de acreditar em si próprios para se tornarem luz e sal. Agora – acrescenta – a nossa missão é mais clara. Temos de ser luz e sal.” Os 10 minutos em que esteve na Igreja de São Qiryaqosh foram suficientes para o Padre Salar compreender bem a dimensão da destruição do templo, a dimensão da violência que se precipitou sobre aquela região aprisionada durante três anos pelos jihadistas. Agora, é tempo de refazer, de reconstruir casas e vidas. O Padre Salar pede, encarecidamente, para isso, a ajuda da Fundação AIS. Os cristãos iraquianos não podem ser abandonados outra vez. O regresso a casa é uma prioridade para as famílias cristãs. É preciso dar-lhes a mão. O Padre Salar mostra-se optimista, apesar de tudo. “Esta situação faz-nos rezar mais, aproxima-nos de Deus, para Lhe pedirmos a força e a graça de ficar com as pessoas.” Os próximos tempos, os próximos anos vão ser duros, vão colocar a comunidade cristã iraquiana à prova. Mas vão colocar também à prova a solidariedade dos cristãos em todo o mundo. Incluindo os portugueses. Incluindo cada um de nós.

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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