O perdão de Rebecca

Notícias 5 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 4

Foi raptada e agredida vezes sem conta. Viu um dos filhos ser morto pelos terroristas e engravidou de um deles, ao fim de inúmeras violações. Durante dois anos, viveu um calvário tão desumano que até é difícil de imaginar. Sobreviveu. Agora corre o mundo a contar a sua história. Esteve por estes dias em Espanha. Todos os jornais falaram dela, falaram da cristã que perdoou aos terroristas.

 

Foi no dia 21 de Agosto de 2014 que começou o calvário de Rebecca Bitrus. O grupo islamita Boko Haram atacou a aldeia onde ela vivia com o marido e dois filhos. Procuravam os homens para os matar. Naquelas horas, enquanto passavam a pente fino todas as casas, os terroristas provocaram um imenso mar de sangue em Dogon Chuku. Foram momentos de pânico. Os sons das balas misturaram-se com os gritos de dor, com o cheiro das casas queimadas, com o desespero. Rebecca foi capturada, tal como os seus dois filhos. Nesse dia, sem saber se o marido tinha sido morto ou não, Rebecca foi obrigada a caminhar, com outras mulheres e crianças, rumo a um dos acampamentos do Boko Haram. Foram dias esgotantes. Os terroristas obrigavam-nos a caminhar em silêncio, pois o exército andava por ali. Foi então que aconteceu a primeira tragédia. O mais pequeno dos filhos de Rebecca, então com apenas 1 ano de idade, desatou a chorar e ela não conseguiu calar o menino. Um dos terroristas agarrou nele, arrancou-o dos seus braços e atirou-o para o rio, junto ao qual caminhavam. A criança afogou-se logo ali, mesmo à sua frente. Durante dois anos, Rebecca, por ser mulher e cristã, foi sujeita às mais incríveis sevícias que se podem imaginar. Nas mãos dos terroristas, porém, nunca renunciou à sua fé, apesar de isso lhe ter custado inúmeras violações, trabalho forçado, agressões sem fim. Rebecca Bitrus esteve agora em Espanha, a convite do secretariado local da Fundação AIS para contar a sua história. E ninguém conseguiu ficar indiferente às palavras e às lágrimas desta mulher cristã de apenas 29 anos que perdoou aos terroristas. “Quando eles gritavam ‘Allahu akbar’, eu rezava em silêncio e pedia para Jesus me salvar.” Quase todos os dias, durante dois anos, Rebecca foi violentada mas nunca cedeu. Na verdade, não a mataram, embora às vezes o tivesse desejado. Foram dois anos de tormentos, em que foi escravizada e violada vezes sem conta. Até que engravidou.

 

Todos os dias

 

Dois anos depois, quase milagrosamente, Rebecca conseguiu fugir quando o acampamento em que se encontrava foi atacado pelo exército nigeriano. No meio da confusão, ela escapou para o mato levando consigo o filho mais velho, Zacarias, e o mais novo, Cristóvão. “Todos os dias recordo que tenho um filho de um deles…”, explicou Rebecca quando lhe perguntaram qual a memória mais forte que guarda do tempo de cativeiro. Mas acrescenta: “já perdoei aos terroristas”. Rebecca esteve em Madrid acompanhada pelo Padre Innocent Zambua, da Diocese de Maiduguri, uma das mais afectadas pela violência jihadista. “Na nossa diocese – disse este sacerdote – temos cerca de 100 mil pessoas que fugiram por causa da violência do Boko Haram, cerca de 300 igrejas que foram queimadas, tal como 25 escolas, 3 centros de saúde e 3 conventos.” Só na Diocese de Maiduguri – que é apoiada directamente pela Fundação AIS – a Igreja acolhe cerca de 5 mil viúvas e 15 mil órfãos, em resultado do terrorismo deste grupo islamita. Agora, todos os dias, quando Rebecca olha para o filho mais novo, quando olha para Cristóvão, lembra-se do homem que a violou, lembra-se de todos os homens que a violaram. Isso seria dramático, seria até uma tragédia, se Rebecca não tivesse já perdoado todo o mal que lhe fizeram. Cristóvão, o seu filho, que nasceu na floresta, no acampamento do Boko Haram, é a prova de que o bem é mais forte do que o mal. O perdão de Rebecca foi mais forte do que todo o ódio dos terroristas.

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail