O Papa ri-se e diz ao cardeal Tolentino Mendonça: «Tu és a poesia»

Notícias 6 outubro 2019  •  Tempo de Leitura: 4

Quando o Papa chegou à sacristia e cumprimentou D. José Tolentino Mendonça, este disse-lhe muito baixinho ao ouvido: “Santo Padre, o que é que me fez?”. Francisco riu-se e respondeu-lhe: “Olha, a ti digo aquilo que um poeta disse: ‘Tu és a poesia’”. A história foi contada aos jornalistas portugueses no encontro com o novo cardeal português, que decorreu este sábado na Catedral de São Pedro, em Roma, logo a seguir à realização do Consistório Ordinário Público que elevou 13 novos cardeais.

 

O novo cardeal português tirou dela uma mensagem “essencial”: “A Igreja conta com uma determinada sensibilidade, uma atenção de um determinado campo humano, que é o campo da cultura, das artes, da estética; e o Santo Padre considera que esse campo é também importante para a missão da Igreja e para aquilo que ela hoje é chamada a ser no mundo contemporâneo”. A poesia já tinha sido um dos temas recorrentes nas perguntas que os jornalistas estrangeiros lhe fizeram. Tolentino de Mendonça foi arranjando forma de mencionar Guimarães Rosa, Rimbaud e Sophia e até foi questionado sobre o que aprendeu com a leitura de Pasolini. Acabou por dizer, quase em jeito de resumo, que a “poesia é a linguagem de Deus”, lembrando ainda que João Paulo II também escrevia poesia e que não deixou de o fazer ao tornar-se Papa.

 

No Consistório, José Tolentino Mendonça, 53 anos, foi o segundo a subir ao altar para receber o novo título que o coloca no topo da hierarquia da Santa Sé, numa cerimónia que não durou mais de uma hora e na qual a compaixão foi o tema principal.

 

Junto ao Papa Francisco, no altar, D. Tolentino Mendonça diz ter sentido “o abraço de Deus”: “Algo maior do que eu. Nas experiências-chave da nossa vida, crentes, leigos, laicos, padres, cardeais, pais de família, sentimos que a vida é maior. Este foram passos conscientes. Não foram uns passos quaisquer”.

 

 

A primeira intervenção realizada neste Consistório foi feita por um dos novos cardeais, em representação dos restantes 13, e começou pela evocação do Evangelho de S. Lucas e pela exaltação da humildade e do sacrifício. O representante dos novos cardeais salientou a necessidade de a Igreja se abrir ao mundo e de incluir nela as periferias, algo que ficou bem marcado na escolha destes cardeais.

 

O Papa Francisco discursou depois e concentrou toda a sua mensagem na compaixão, algo que já tinha feito na carta que dirigiu aos cardeais antes da realização do Consistório, conforme D. Tolentino Mendonça mencionou sexta-feira à tarde, no encontro que teve com os jornalistas.

 

O Papa escolheu uma passagem do Evangelho de S. Marcos sobre a compaixão e não se referiu ao estado do mundo mas apenas ao que é o coração de Jesus e ao que deve ser coração do homem religioso - no qual, segundo sublinhou, deve existir a compaixão, requisito obrigatório a qualquer cardeal.

 

“A compaixão não é facultativa. É um fundamento essencial”, disse o Papa aos novos cardeais, totalmente vestidos de vermelho púrpura, um sinal de sangue ou do próprio sangue que devem estar dispostos a derramar em nome da fé, da Igreja, do Santo Padre e de Jesus.

 

Do Funchal, Tolentino de Mendonça recebeu uma cruz, “muito bonita”, “sinal da história que me trouxe aqui”, cuja bênção foi feita pelos bispos D. Teodoro, D. António Carrilho e D. Nuno Brás.

 

A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, esteve na catedral, assim como Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira.

 

Expresso]

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