Tanto faz!

Crónicas 22 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Vivemos reféns do que os outros pensam ou podem pensar de nós. Importamo-nos com o que vão dizer, com o que farão com aquilo que dissermos, com as meias verdades que vão compreender a partir das nossas palavras e gestos. Vivemos submersos num pântano se hipóteses, possibilidades e situações que não existirão em lugar algum senão na nossa cabeça. Vivemos atordoados e amarfanhados com as listas que fazemos de “e se…”. E se eu pudesse ter feito de outra forma? E se eu pudesse ler o coração dos que me rodeiam com a pressa do meu olhar? E se eu conseguisse amar sem sentir que o sangue me foge de debaixo das veias? E se eu tivesse seguido pela estrada que me sugeriram? E se, naquele dia, eu não tivesse entrado no carro? E se, naquela noite, eu não tivesse deitado tudo a perder por ter fugido? E se eu tivesse conseguido dizer a verdade, ainda que isso pudesse significar que o meu coração ficasse atravessado por uma espada aguda e fria?

 

Vivemos imersos nos nossos cenários hipotéticos, nos nossos futuros absurdos e gigantescos, nos nossos projetos que condizem com a verdade e a vontade alheia. Não estás cansado? Não estás cansada? Não estamos cansados deste carrossel viciado que nos obriga a viver dentro de um círculo que não nos dá sentido?

 

Devias estar. Devias estar. Devíamos estar fartos de querer agradar aos que nos agradam. Devíamos estar cansados de querer fazer vontades que não combinam com as nossas. Devíamos estar exaustos por ousar acreditar naquilo que não nos faz o peito tremer. Acreditar a que preço? Que preço pagamos por acreditar naquilo em que acreditam todos os outros? Vai sair-nos caro. Vai encolher-nos o coração e a alegria. Vai fazer-nos mal. Vai envenenar-nos os dias. Não digas “tanto faz” a tudo só porque não encontras coragens tuas. É tão simples como isto:

 

Veste a roupa que queres vestir. Veste apenas a tua pele. Veste apenas as tuas lutas. Veste apenas as tuas dores. Veste apenas os teus amores. Veste apenas os teus amigos. Veste apenas o teu conforto e o que te faz nascer luz nos olhos. Veste a tua Cruz, se sentes que tens morada no Céu. Veste outra fé qualquer, caso não seja essa a tua. Veste as tuas palavras com verdade. Abotoa o que quiseres guardar para ti. Veste a tua vida como uma bandeira. Veste apenas o que for teu. Não queiras que ninguém te vista. Não queiras a roupa de ninguém!

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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