Deixemo-nos habitar

Crónicas 20 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 2

Muitas são as vezes em que ficamos indiferentes à realidade dura do nosso vizinho ou ao sofrimento de um povo. Tantas são as imagens que nos aparecem pela televisão, pelo jornal e por toda a comunicação social às quais ficamos indiferentes. Cada notícia conta a história de uma pessoa que poderíamos ser nós, que poderia ser connosco. Precisamos de encher-nos de vida. Precisamos de permitir-nos sentir o mundo ao nosso redor seja a criança que passa por nós e sorri ou o carteiro que nos traz o jornal. Precisamos de estar atentos à vida, de senti-la.

 

O mundo pede-nos tantas vezes que aceleremos, que façamos e cumpramos. Ousemos por vezes parar e sentir a vida a acontecer. Ousemos querer conhecer as pessoas pelo lado de dentro. Diz o Papa Francisco que “para partilhar a vida com a gente e dar-nos generosamente, precisamos de reconhecer também que cada pessoa é digna da nossa dedicação. (…) E ganhamos plenitude, quando derrubamos os muros e o coração se enche de rostos e de nomes!” (EG 274). Ousemos deixar-nos povoar pelo outro. Vençamos a indiferença e a inércia. Deixemo-nos tocar pelo mundo.

 

A realidade é dura e fica-nos tantas vezes cravada na pele. Na nossa vida, no nosso dia-a-dia, no nosso trabalho, na escola ou na paróquia tantas são as histórias que nos povoam, que nos habitam. Diz o povo, na sua infinita sabedoria, que quem vê caras não vê corações como quem diz, conhecer pessoas nem sempre é conhecer histórias. Por isso, eu ouso demorar nas conversas, chego, sento-me e estou sem pressa. Ser missionário é deixar-nos habitar pelo outro. Somos missionários quando nos deixamos tocar pelas pessoas. Os olhos demoram-nos. Os olhos ficam-nos cravados na alma. Os olhos demoram-nos no coração. As histórias que nos contam entram, fazem casa e ficam lá para a eternidade. Há pessoas e histórias que nos povoam. Estás em missão quando tens cidades de pessoas e histórias gravadas na alma. Há abraços que não esquecemos. Há palavras que dizemos a rezar “que fique tudo bem meu Deus”. Damos mimo, damos colo, damos abraços e beijos, limpamos lágrimas confiando que o amor fará o resto.

tags: Voluntariado

paula ascenção sousa. a minha religião é o amor. cresci católica, descobri-me missionária. acredito e vivo o amor sem rótulos, sem barreiras, para todx. vivo do amor,  por amor e com amor e para amar.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail