Estamos perdidos ou achados?!

Crónicas 1 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Andamos à procura do que não existe e do que não foi sequer inventado. Não nos sobra tempo para grande coisa mas parece-nos, ainda assim, suficiente para procurar algo sem nome nem rosto que não sabemos definir muito bem. O que sabemos, com uma certeza assustadoramente absoluta, é que queremos o que ainda não temos. O que ainda não é nosso. Julgamos precisar de mais tempo, quando não sabemos gerir o que nos é dado. Julgamos precisar de mais motivação, quando não conseguimos encontrar alegria nas pequenas coisas. Julgamos precisar de mais compreensão, quando não conseguimos fazer um esforço para compreender as escolhas e decisões dos que vivem ao nosso lado. Julgamos precisar de mais atenção, quando não estamos NUNCA atentos ao que (e a quem!) nos diz respeito. Julgamos precisar de alternativas, quando não estamos dispostos a aceitar os caminhos que a vida nos oferece, tantas vezes, de mão beijada. O que precisamos mesmo é de lembrar que todas as correntes que nos atrofiam o coração são, em grande parte, responsabilidade nossa. Na verdade, só podemos receber na medida do que damos e do que queremos disponibilizar. Se teimamos em colocar a nossa metade em tudo o que fazemos, temos que estar dispostos a receber, depois, metade do que queríamos. Do que esperaríamos. Por outro lado, se estivermos dispostos a dar tudo (sem proteger a nossa metade preferida para que uma parte de nós possa estar salvaguardada) é tudo o que estará, também à nossa espera. O que não podemos é aceitar viver uma vida morna e pouco interessante e pedir à vida que nos devolva momentos que nos incendeiem o coração e que nos façam perceber todos os sentidos que a nossa vida tem e pode ter. O que não podemos é dizer que fizemos tudo o que pudemos e, cá dentro onde ninguém vê, ter a certeza que não ousamos nem quisemos fazer metade daquilo que a nossa força nos permitia. O que não podemos é ficar surpreendidos com as tempestades se nunca fomos construtores de paz alguma.

 

Eu sei. Ainda não respondi à pergunta que nos trouxe aqui. Estamos perdidos ou achados?! Estamos, ainda, bastante perdidos. Às vezes parece que preferimos andar à deriva ainda que os rumos certos estejam ali, mesmo a agitar os seus braços à nossa frente. Estamos perdidos porque só queremos encontrar o que não é necessário. O que não nos faz falta.

 

Então isso significa que a vida me vai dar na mesma medida que eu der? Sempre? De todas e cada vez? Não. Felizmente, a vida tem tendência a ser bastante mais generosa do que nós.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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