Hoje celebra-se uma data importante na história da humanidade. Não me refiro ao halloween, porque, verdade seja dita, independentemente de ter origem cristã (All Hallow Eve", que significa Noite de Todos os Santos) ou outra (o Halloween,  ou Hallowe’en, remonta a uma antiga celebração celta, o Samhain. Acreditava-se que os mortos regressavam e que os deuses e outros seres do submundo passeavam por entre os vivos), nada tem a ver com a nossa cultura.

A data a que me refiro é o 5º Centenário da Reforma Protestante. Passaram 500 anos desde que Martinho Lutero afixou nas portas da catedral de Wittenberg, as 95 teses que contestavam a prática de venda das indulgências. Se bem que os historiadores estão de acordo que Lutero não queria fundar uma nova igreja, a evolução dos acontecimentos levou a várias divisões no cristianismo do ocidente, gerando conflitos e guerras com consequências até aos nossos dias.

Para percebermos estes efeitos contraproducentes, porque são um contratestemunho da fé cristã, basta saber que só no final do Concílio Ecuménico Vaticano II é que se iniciou o diálogo católico-luterano, mais especificamente em 1967. Portanto, estamos no inicio do movimento ecuménico. Finalmente percebeu-se que os cristãos não podem anunciar o Evangelho com credibilidade se mantêm-se divididos. A presença do Papa Francisco em Lund na Suécia, a 31 de outubro de 2016, inicio destas comemorações, não foi mais que impulsionar este testemunho de um Deus ressuscitado que é alegria e esperança numa europa cada vez mais descrente, secularizada e desunida.

Os católicos comemoram esta data? Usando do bom senso, não devo comemorar o que deu origem a tantas divisões e conflitos. No entanto, deve esta data potenciar a reflexão e consequente prática do diálogo, não só com os irmãos separados, mas também com os que ainda estão unidos.

Se fizermos uma análise séria sobre este cisma, perceberemos de imediato que a protesta de Lutero incidia sobre as relações entre a Igreja e o Estado. Acabou enredado pelos Estados do Sacro Império Germânico. Martinho defendeu o "livre arbítrio" com a leitura e interpretação direta da Bíblia, sem intermediários. Se inicialmente o efeito foi uma alfabetização de grande parte das populações, pouco depois nesta "religião do Livro", sem os intermediários, a Incarnação foi perdendo o significado. Foi a redução da mensagem bíblica do teológico a ético, como que a Bíblia fosse apenas um livro de bons conselhos morais. Basta ver a quantidade de Igrejas reformadas. Também elas com necessidade de ecumenismo.

Esta pequena análise não visa "apontar" defeitos, mas sim, alertar-nos para o seguinte: a falta de diálogo pode levar-nos a extremos onde caímos nos erros que apontamos.

No encontro do ano passado com os luteranos, o Santo Padre quis, como quer com todo o mundo protestante, reconhecer que a Igreja não brilha com a sua própria luz. O que brilha na Igreja é obra da Graça de Deus. Como disse Gianni Valente, jornalista da "Fides" e do "Vatican Insider", aquando do encontro na Suécia: «Foi isto (a Graça) que esteve ao inicio como ponto de conflito entre a Igreja Católica e a Reforma de Martinho Lutero». E é isto que devemos refletir para não cair na tentação de sermos nós a brilhar em vez de Jesus Cristo.

Uma semana gratificante.