«Arquitextura» das relações

Crónicas 27 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 2

"De entre todos os pedidos, os que nos custam mais são os mais simples,

aqueles imateriais e que se prendem com a arquitetura (ou arquitextura,

como ensinou Derrida) das relações: pedir amor, pedir desculpa,

pedir presença, conversa, compaixão."

Pe. José Tolentino Mendonça

- O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas

 

Temos imensa dificuldade em pedir aquilo que nos alimenta a vida. 

Existe, em nós, um tremendo medo em assumir que só nos completamos nas relações e que, para isso, precisamos de nos entregar. 

Por vezes temos de pedir e de experimentar o valor das relações.

É necessário perceber que não nos bastamos e que necessitamos sempre muito mais do que aquilo que existe em nós.

Precisamos de pedir, não de forma egoísta ou desesperada, aquilo que dá sentido a uma vida. 

Só pedindo, de forma humilde e simples, se pode receber o que de melhor existe no outro. 

É nesta vivência com o outro que não deixamos que os pedidos se percam no medo que nos assombra. 

É nesta experiência com o outro que vamos experimentando a audácia de não existirmos, nem de nos movermos solitariamente. 

E como é essencial que façamos este pedido! 

Urge, neste mundo que insiste em viver no medo e na insegurança, em caminharmos no sentido daquilo que sustenta todas as vidas: as relações.

É fundamental, nos dias de hoje, que o pedido, simples e sincero, faça renascer as ligações que enriquecem o maior dos pobres e que alimenta o maior dos ricos. 

Agora não nos convençamos que tudo isto surge do nada. Não nos convençamos que tudo isto acontece por trás de máscaras.

Se queremos relações à séria temos de, muitas vezes, amar sem que o outro seja merecedor desse amor.

Temos de estar onde muitas vezes não queríamos ir.

Temos de perdoar, mesmo não esquecendo o que nos fizeram, acreditando que a lógica do amor será sempre maior do que tudo. 

E temos, acima de tudo, de saber "calçar os sapatos dos outros" para que não fiquemos apenas no nosso mundo e saibamos experimentar aquilo que o outro vai sentindo e vendo.

Cabe-nos sermos verdadeiros pedintes desta imaterialidade que nos renova e nos convida a recebermos o outro de mãos abertas.

Cabe-nos sermos verdadeiros pedintes desta imaterialidade, para que nada mais nos falte.

Nasceu em 1994. Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano. Psicólogo no Gabinete de Atendimento e Apoio ao Estudante e Coordenador da Pastoral Universitária da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. Autor da página ©️Pray to Love, onde desbrava um caminho de encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus.

 

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