A nossa fé é cosmética ou caridade operante?

Crónicas 10 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Para os católicos o mês de Outubro é indissociável da Missão. É o mês missionário. Na  Mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, o Papa Francisco diz no número 6:

 

«A missão da Igreja é animada por uma espiritualidade de êxodo contínuo. Trata-se de "sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho" (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 20).»

 

O Papa convida-nos de novo a sair da nossa zona de conforto e ir ao encontro dos marginalizados. Se é verdade que neste mês recordamos de uma forma específica aqueles que estão nas missões distantes, não é menos verdade que aqueles como eu, que tenho a minha vida edificada aqui, somos chamados a ir até às periferias da nossa existência.

 

Quem são esses? Os esquecidos, os excluídos, os estrangeiros, os sem-abrigo. No fundo, toda a humanidade à margem das nossas vidas quotidianas. Francisco, com o título "A missão no coração da fé cristã", volta a provocar-nos para que saiamos da monotonia das nossas vidas de fé. Para que abandonemos as habituais formas de pensar e de viver. Convida-nos a redescobrir o coração da missão, que não é outra coisa senão a alegria de anunciar a Palavra de Deus.

 

Esta Palavra é, Ela mesma, encontro com uma Pessoa que é Jesus. E Jesus diz-nos que estamos aqui de passagem. A Igreja não é um fim em si mesma, mas um povo que caminha. É precisamente isto que precisamos ter consciência diária. Como podemos estar atento ao pobre, ao desfavorecido, se estamos preocupados com a "nossa residência" neste mundo?

 

Na missa de Santa Marta, a 14 de Outubro de 2014, o Papa perguntou se a nossa "vida cristã é de cosmética, de aparência ou é uma vida cristã de fé operante na caridade". Não basta recitar o Credo. Não basta aparentar que somos bons cristãos. É preciso sê-lo. E este ser é diariamente. Não só ao domingo! Não só em Outubro! Não só quando nos convocam para um evento de solidariedade! Não só quando, enquanto cristãos, "nos pisam os calos"!

 

Ser operantes na fé é ter a coragem de nos afastar da ganância para saber como dar aos outros, especialmente os mais pobres. Ser operantes na fé é saber afastar-nos da cobiça para partilhar com os mais necessitados o que temos e o que sabemos. No fundo, o que somos...

 

Ter a missão no coração da fé cristã é ter uma fé que se move ao encontro do outro. A caridade não é imóvel. A caridade transforma-se em esmola. Mas esmola num sentido amplo da palavra: é aquela que abandona a ditadura e a idolatria do poder, do domínio, do dinheiro e faz-se serviço do outro.

 

Uma caridosa semana.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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