Quem tem pressa chega tarde!

Crónicas 27 setembro 2017  •  Tempo de Leitura: 2

Se quem tem pressa chega tarde, quem tem calma chega cedo?! Digamos que pode não ser, exatamente, assim. Quem corre muito, corre o risco de chegar atrasado ao que era verdadeiramente urgente. Então, como é que eu sei o que justifica que o meu coração corra?! Ou melhor, como é que eu sei o que é importante?! Ou ainda, como é que eu escolho (de entre o sem número de eventos que se acumulam nos meus dias) o que vale, MESMO, a pena?! Para cada uma destas perguntas, há constelações e galáxias de respostas. É preciso encontrar a minha resposta-estrela à luz daquilo que julgo ser a minha vida.

 

Quem corre por gosto, também se cansa e quem não gosta do que faz não se cansa?! Digamos que pode não ser, realmente, assim. Quem corre por causa dos sonhos que lhe dão velocidade ao motor do lado de dentro do peito, não se cansa. Ou, mesmo que se canse, não nota. Qualquer sonho é maior que qualquer cansaço. Quem não sabe dar nome ao que é capaz de transformar lágrimas em barcos, não terá razões para correr e também não vai ter motivos para se cansar. Se pensarmos bem, talvez seja preferível o cansaço que os sonhos trazem em vez do descanso de não encontrar razões para sonhar.

 

Quem tem pressa chega (quase) sempre tarde. Estamos reféns da velocidade que a vida leva e, quase sem percebermos, estamos reféns da velocidade a que a vida nos leva. Estamos presos ao que chamamos liberdade e que nos amordaça em vez de soltar. A verdade é que nos é possível fazer cada vez mais com menos tempo. Mas parece cada vez menos possível chegar à raiz das coisas. Perdemos o rumo mais fundo do que vivemos porque nos parece que é preciso abreviar o tempo e passar à próxima tarefa. Chegamos cada vez mais tarde. Ninguém cumpre horários. Ninguém chega a horas porque se perdeu todo o respeito pelo tempo de cada coisa. Importa fazer muito, não importa fazer bem. Ficamos velhos cada vez mais cedo. Velhos de pensar em como superar o insuperável; velhos de viver do que está à superfície; velhos de correr para nunca chegar a um lugar que valha a viagem. Ou a corrida.

 

Quem tem pressa chega tarde. Quem chega cedo espera sozinho. Mais vale chegar quando tiver que ser.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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