Ainda vale a pena crescer?!

Crónicas 13 setembro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Não sei bem quando é que paramos de crescer. Parece-me que deixamos de crescer quando deixamos de querer fazer melhor e ser melhores. No entanto, a minha dúvida é esta: Será que ainda vale a pena crescer?! Ou melhor: será que vale a pena continuar a crescer, mesmo depois de já se ser bastante adulto?! Ou ainda: pensarão as crianças de hoje que o mundo se tornará (ainda) mais difícil quando crescerem?!

 

Eu diria que ainda vale a pena crescer. Vale a pena crescer, como adultos, para poder ajudar as crianças a crescer como crianças. Não é isso que estamos a fazer. Não é isso que tem acontecido. Temos levado as crianças pela mão e, precisamente por serem pequenas, ainda não perceberam que as levamos, muitas vezes, pelo caminho errado. Queremos transformar os mais pequenos em sombras nossas. Queremos que consigam fazer muitas coisas ao mesmo tempo e que, no final, ainda tenham vontade de fazer um pouco mais. Não era suposto que as crianças se sentissem cansadas de crescer. Não era suposto que os adultos quisessem fazer dos mais novos pequeninas réplicas suas.

 

Talvez valha a pena perceber que estamos a entrar numa espiral bastante perigosa. Queremos adultos em miniatura ou queremos pessoas que cresçam saudáveis e felizes? Queremos entupir a vida das crianças com rotinas, atividades, trabalho, exigências e resultados rápidos ou queremos deixar que o caminho se faça no tempo certo?

 

Talvez valha a pena guardar um par de horas para ensinar aos mais pequenos o que realmente importa: não é preciso que se preocupem com absolutamente nada. É para isso que existem os adultos. Não é preciso que adormeçam a pensar nos problemas do dia de amanhã. É para isso que existimos (nós, os adultos).

 

Ainda vale a pena crescer. Ainda precisamos de crescer de verdade. Somos pequenos Peter Pans mimados que se perderam com a ilusão da Terra do Nunca. Esta não é a Terra do Nunca, meus amigos. É a Terra do Sempre. Sempre ativos. Sempre funcionais. Sempre alerta. Sempre atentos. Sempre eficientes. Sempre produtivos. Sempre criativos. Sempre empenhados. Sempre ao sabor da corrente e da maré.

 

Quando é que nos sobra tempo para viver?!

 

Vale a pena guardar tempo para ter tempo. Tempo para a alegria. Para os abraços demorados. Para os beijos multiplicados. Para ver as flores novas. Para encontrar esqueletos de conchas à beira mar. Tempo para ver as estrelas ou o nascer do sol. Tempo para beber do azul do Céu e para respirar o esverdeado das montanhas e das serras. Tempo para engordar os sonhos e viver à sombra deles. Se for para ter tempo para cada uma destas coisas, então sim, vai valer a pena crescer.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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