Faltam Crianças! Nascem cada vez menos...

Crónicas 21 novembro 2023  •  Tempo de Leitura: 5

Iniciei este dia a ouvir a notícia de que Portugal perdeu mais de um milhão de crianças e jovens nos últimos 50 anos e tornou-se no segundo país europeu mais envelhecido, a seguir à Itália. São dados da Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, assinalando o Dia Universal dos Direitos das Crianças que neste dia 20 de Novembro se comemora. Alarmante!

 

A situação histórica e a conceção da existência mudaram consideravelmente nestes últimos anos: antes de mais, a precariedade económica, política, relacional e emocional em que vivemos não incentiva os jovens a fazerem escolhas definitivas, orientadas para a doação de si no casamento e aberto à parentalidade; a idade das escolhas decisivas prolongou-se consideravelmente; aos casais falta-lhes, cada vez mais, a coragem e a alegria para dar à luz mais de um filho...

 

Já para não falar da falta de fé, como tenho vindo a repetir nas minhas últimas crónicas sobre as vocações. Uma fé débil que se manifesta na falta de confiança na vida e no futuro. Esta descristianização, levou muitos batizados a uma forte diminuição da fé na Providência e, portanto, a uma diminuição da generosidade no dar e no acolher a vida. 

 

Entre as novas gerações, percebem-se sentimentos e estados de espírito contraditórios: por um lado, a necessidade de estabilidade económica e emocional, por outro, a tendência a fugir do para sempre, sem chegar a decisões estáveis. É o famoso Carpe Diem! 

 

Da infopédia:

«O poeta Horácio, no Livro I de Odes, escreve: "Dum loquimur, fugerit inuida / aetas: carpe diem, quam minimum credula postero." (De inveja o tempo voa enquanto nós falamos: / trata pois de colher o dia, o dia de hoje, / que nunca o de amanhã merece confiança." – trad. David Mourão-Ferreira).

"Carpe diem" é, muitas vezes, interpretado apenas como aproveitar o dia, mas é possível encontrar um significado mais extenso de desfrutar a vida em todos os sentidos, sem preocupações com o futuro. Basta lembrar que esta exortação é feita a Leuconoe (personagem verdadeira ou imaginária) e que, tendo um valor ético-filosófico de saber viver o momento presente, pode conter, também, um valor libidinoso que sugere o prazer antes que a vida não deixe gozar esses instantes.»

 

Além disso, a profunda fome de liberdade e de verdade muitas vezes não se traduz em escolhas adequadas, ou é muitas vezes condicionada pelo medo de perder aquela mesma liberdade sonhada e procurada.

 

É verdade que a nossa sociedade, que se baseava numa série de relações familiares, começou a transformar-se, dando mais espaço às famílias mononucleares. E a família mononuclear é uma família que tem menos recursos e menos autonomia em relação às necessidades que os filhos possam ter. A família encontra-se numa situação difícil porque o Estado não substituiu a rede familiar.

 

Concluindo.

 

Antes as famílias eram apoiadas por uma rede familiar e de fortes relações de pertença, e quando essa rede, pela mobilidade da sociedade e por muitas outras razões, começou a enfraquecer, não houve nem há aquele que atue como substituto e fortaleça o futuro das famílias: o Estado. Assim, os problemas sociais, económicos e culturais somam-se. 

 

Além disso, a diminuição do espírito religioso, ou seja, da secularização, fez com que a ideia de que as crianças são uma bênção desaparecesse do horizonte de muitas pessoas. 

 

Afinal, o Estado e a sociedade como um todo não são amigos das famílias. Digamos apenas que não há ninguém que diga que ter filhos é bom...

 

E não há nada mais importante para uma pessoa do que dar origem, juntamente com a pessoa que se ama, a outra pessoa, a uma nova liberdade. Este é o maior projeto de vida que se pode ter. Cuidar de alguém por amor, gratuitamente... Ter um filho é uma decisão profundamente humana e diz muito sobre a nossa identidade pessoal.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail