Optimismo de bolso!

Crónicas 14 junho 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Para se viver num mundo distorcido como é o nosso é preciso ser-se genuinamente optimista. São mais as portas que se fecham na nossa cara do que aquelas que se abrem para nos deixar passar. São mais os gestos que insinuam desconfiança e dúvida do que aqueles que acolhem sem pensar duas vezes. São mais as vezes que a vida nos diz “eu bem te disse” do que as vezes que nos diz “afinal… tinhas, tu, razão”.

 

Para se viver num mundo pessimista como é o nosso é necessário ser-se verdadeiramente optimista. E como é que isso se consegue no meio do caos que nos desinstala diariamente? A verdade é que nem sempre se consegue e nem sempre é possível. Como alguém me dizia há dias, há vários tipos de optimismo. E há. Infelizmente, nem todos os optimismos são bons. Depende do eco que a palavra tem em nós e na vida que vivemos e, por outro lado, dependerá também do eco que o mesmo conceito terá nos outros.

 

Se estivermos a falar do optimismo cego, podemos estar perante um problema. Este optimismo é o de quem escolhe não ver. Não vê o que está errado e nem sequer o valoriza porque “é optimista” e está convencido que o está mal é meramente temporário. Claro que quem se instala nesta cegueira alegre acaba por ser um falso optimista. Se tudo estiver mal na vida de alguém, não lhe vamos dirigir consolo apropriado se lhe dissermos que está tudo bem ou que vai ficar tudo bem. Muitas vezes, a vida das pessoas não vai mesmo ficar bem. Vai ficar diferente por uns tempos. Vai ser difícil. Vai ficar diferente para sempre.

 

Podemos falar ainda do optimismo passageiro. É uma espécie de onda que nos acalma e motiva mas desaparece rapidamente perante um problema “a sério”. Podemos também chamar-lhe optimismo de conveniência. Por alguma razão, é-nos conveniente fazer um rascunho de optimismo e dar-lhe uma ou outra cor apressada para que o efeito se sinta rápida e eficazmente.

 

Estou tentada a dizer que nada disto é optimismo. Nada do que é instantâneo foi feito para durar. O que é feito para permanecer dá trabalho e gasta a pele ao coração. O optimismo é primo da alegria e é como uma peça de roupa que decidimos vestir. Um acessório que nos completa e melhora. O optimismo verdadeiro é o optimismo consciente. Aquele que observa o caos para lhe adivinhar uma réstia de ordem ou organização. Aquele que não se demite da responsabilidade dos riscos que corre. Aquele que guarda no bolso uma palavra de alento em vez de uma palmadinha nas costas.

 

O optimismo não é para qualquer um. É para os corajosos. Para todos aqueles que decidem atrever-se a ver (e fazer!) melhor. Mesmo quando tudo estiver virado do avesso.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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