Imaginar

Crónicas 9 janeiro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

E se pudesses concretizar tudo o que imaginas? Um exemplo encontras na impressão 3D. Podemos não conseguir fazer tudo, mas fazemos muito mais do que poderíamos imaginar há alguns anos.

 

Pensas que o desafio maior está no modo de concretizar aquilo que imaginas, mas e se te dissesse que talvez não esteja aí?

 

A impressão que tenho é a de que o maior desafio à imaginação é mesmo imaginar.

 

Vivemos no mundo da gratificação instantânea e do consumo exacerbado. Compramos o que queremos, quando queremos, onde quer que estejamos. Se algo se estraga, não se arranja, compra-se um novo. E não porque não seja caro, mas barato. Porém, o que é barato sai caro porque em vez de imaginarmos uma solução para reparar o estragado, acabamos por não usar ou treinar sequer a nossa imaginação.

 

Como gostaria que 2020 fosse um ano em que mais do que darmos largas à imaginação, déssemos, antes de mais, espaço e tempo para imaginar.

 

Se algum dia conseguimos descobrir como voar foi graças à imaginação. Ou se conectamos com alguém do outro lado do mundo num ápice foi porque imaginámos e concretizámos. 

 

Disse Fernando Pessoa que «Deus quer, o homem sonha e a obra nasce», mas se o homem deixa de imaginar, os seus sonhos acabam por ser apenas sobre o que conhece porque nada o inspira. Compra e pronto.

 

O melhor modo que desenvolver a imaginação é criar com as próprias mãos, arranjar o que parece não ter arranjo, aprender o que não se sabe, arriscar desenhar (ainda que mal), pintar (ainda que fique tudo sujo), libertar o sentido criativo de um corpo-mente-espírito que se sente criado para amar até ao infinito. Sim, a imaginação não tem limites porque vai para além dos limites.

 

Phil Hansen é um artista que ao crescer começou a ter problemas com as mãos que não paravam de tremer. O seu sonho de desenhar parecia desvanecer-se até um um médico lhe - «abrace o tremer» - e o que seria uma limitação foi o nascer de um novo e fabuloso modo de desenhar. O único limite à imaginação é a incapacidade de abraçar a vulnerabilidade, fonte dos maiores actos de coragem.

 

Pega num lápis. Começa por um traço, uma palavra e deixa a mão fluir.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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