E viveram felizes para sempre.

Crónicas 7 dezembro 2019  •  Tempo de Leitura: 3

Quando navegarmos naqueles dias de pouca esperança, de derrota interior, de secura pessoal, talvez nos ajude pensar do seguinte modo.

 

Se Jesus não ressuscitou, a nossa fé é vã e a nossa oração nada mais é que uma ilusão reconfortante fazendo-nos dormentes em relação à morte. Se Jesus não ressuscitou, toda a vida é aleatória e nós, num alea iacta est, somos lançados para o meio de uma selva sem sentido, destinados a sobreviver, a espezinhar ou a sentar hibernando numa gruta, esperando aqueles ínfimos momentos de prazer animal.

 

Se Jesus não ressuscitou então o Céu não existe, pois o seu anúncio nos foi iluminado pelo Cristo. Se o Céu não existe, o que faremos? Morreremos em vão, em vão viveremos. Caminhamos com um sorriso ignorante para uma escuridão injusta. Sentimos, amamos para nada.

 

Sabemos que Jesus ressuscitou pela prova mais fidedigna e mais fraca que o ser humano pode ter: sentimos a sua presença, se nos pusermos “a jeito”. Esta é a prova mais fraca por ser tão pessoal que, num argumento, num debate, facilmente cai por terra perante a ciência da experiência. No entanto, é o sentimento que nos move, que nos anima, que nos dá vida, que nos faz discernir o certo do errado. A oração provoca em nós um sentimento de ligação inegável e inexplicável, mesmo assim, sabemos, que a ligação não pode ser só de um lado, somos ouvidos, Deus responde, Jesus olha por nós, nossa Senhora guarda-nos e o Espírito Santo habita-nos.

 

Esta é a prova mais fidedigna de que Jesus ressuscitou porque a nossa linguagem é um veículo do sentimento. Criámos a linguagem porque o ser o humano sentiu que precisava mais do que balir ou zurrar para se expressar. O ser humano é um ser investido de mais sentimento. Mesmo que tenhamos conseguido “colar” certos sons aos sentimentos para que, vocalizando-os ou simbolizando-os, possamos ilustrar no próximo aquilo que no nosso interior acontece a cada momento, não podemos ser tão ingénuos ao ponto de pensar que os nossos sentimentos se esgotam no vocabulário. Jesus ressuscitou, o Céu é verdadeiro e nós sabemo-lo. As pessoas que O sentem valorizam mais a Sua presença do que a vida, sorriem perante aquilo que aos mortais mais medo causa – a morte – porque é necessária, é um segundo nascimento, é uma porta. Os apóstolos, que partilharam a vida com o Cristo, após a sua morte fecharam-se em medo. Haverá maior prova de que Jesus ressuscitou do que a vida daqueles humanos, amedrontados como nós, que passaram do maior medo, para a maior bravura, a maior heroicidade, a coragem mais sublime, porque sem armas, sem nada se fizeram ao mundo que os perseguia num tempo em que a brutalidade era mais vistosa do que a brutalidade escondida dos nossos dias?

 

Se Jesus ressuscitou e o Céu existe, podemos ter a certeza, caros irmãos, que todas as nossas histórias, se assim o quisermos, acabam em: “E viveram felizes para sempre”.

Tem 25 anos. É músico e trabalha numa casa de fados como guitarra portuguesa. A terminar o curso de estudos gerais na faculdade de letras. 

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