Muda

Crónicas 5 dezembro 2019  •  Tempo de Leitura: 2

“Se não mudas nada, nada te muda.”

 

Li esta frase num cartão pendurado no espelho retrovisor de um automóvel e fiquei a pensar. Tu não?

 

O que mudar? Como mudar? Mas, talvez a questão mais importante, porquê mudar?

 

Muitos de nós sabemos o que mudar. Pode ser aquele defeito, um determinado comportamento, uma perspectiva.

 

Alguns sabem como mudar. Criar um novo hábito, estar mais atento e consciente, voltar a aprender coisas novas.

 

Mas poucos sabem porquê mudar. Essas razões fazem parte do que é mais íntimo, e são o que moldam a nossa interioridade e o que é intrínseco à nossa personalidade.

 

As razões tocam-nos no âmago intocável e reservado. E, bem lá no fundo, é o íntimo que custa mudar. Pois, no mundo ruidoso e tão consumidor da nossa atenção, pouco espaço e tempo nos resta para entrar no íntimo de nós mesmos e encontrar as razões da nossa existência, comportamento, escolhas.

 

É preciso desacelerar o passo, serenar, silenciar, talvez até parar, respirar, fechar os olhos, de modo olhar bem o nosso interior, e limpar a nossa mente de todos os pensamentos e preocupações. E depois? O que te ocorre?

 

Nada. Conhecemo-nos pouco. 

 

Demasiado. Pensamos conhecer-nos bem demais. 

 

Há quem não faça a mínima ideia de quem é. Há quem o saiba bem demais. Quem pouco se conhece tem dificuldade em perceber o que pode mudar. Quem muito se conhece sabe bem o que tem de mudar, mas [quantas desculpas].

 

Pensamos que mudar significa alterar radicalmente o nosso interior, e até pode ser assim, mas não necessariamente. Quando mudamos um pouco apenas, mas todos os dias, ao fim de um ano mudámos 365 vezes! É qualquer coisa, não?

 

Mudar pode implicar reconhecer uma limitação em nós, ou nos outros. Pode ir contra o nosso modo normal de proceder. Pode ir a favor de uma onda, ou contra uma onda, e tememos não sobreviver à mudança. Mas já pensaram que ao nascermos tudo mudou? O conforto do ventre deixou de existir. O modo como respirava mudou, a ponto do ar sufocar até que nos habituássemos. Os sons mudaram, a visão mudou, o paladar revelou-se. É o resultado de nascer.

 

Mudar no porquê produz esse efeito. Renascemos.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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