Momento

Crónicas 28 novembro 2019  •  Tempo de Leitura: 3

E se toda a memória do mundo se apagasse, excepto uma por cada pessoa? Qual seria a tua?

 

Há pouco tempo estava na primeira comunhão da nossa afilhada e quantas pessoas não vi agarradas às múltiplas fotos que a nossa tecnologia permite. O que pretendem com tantas fotos senão registar momentos? Será que, de tão distraímos que estamos, procuramos registar o maior número possível de momentos com receio de os esquecer?

 

O que é a memória senão momentos profundamente gravados no nosso interior? 

 

Cada momento é uma experiência que nos marcou. Um instante.

 

Cada momento memorizado acontece no tempo certo e incerto.

 

Mas o único momento que realmente temos é o agora. Será esse momento presente que guardarias em memória?

 

Recentemente li um artigo que referia como as distracções estão a afectar a nossa memória que, gradualmente, perde a capacidade de prestar atenção e se concentrar. De facto, se uma boa parte do nosso tempo é passada a trabalhar, outra em trânsito, outra nos afazeres familiares ou de casa e gastamos o tempo que resta diante de um ecrã para não perder a última foto no Facebook, o último insta, o último tweet, que momento será de entre estes aquele que merece ser o único a guardar?

 

A nossa mente, o nosso cérebro, precisam de repouso para limpar o lixo de informação recebido ao longo do dia, reter o que realmente importa e consolidar as lições que aprendemos. Mas se todo o nosso tempo é passado num manancial de informação que produz apenas gratificações instantâneas, não correremos o risco de fazer hábito do efémero?

 

P a u s a . . .

 

Curiosamente, são os momentos de pausa, paragem, tédio, em que nada mais há senão estar junto com os nossos pensamentos, que descobrimos verdadeiros tesouros escondidos nos recônditos da nossa memória. Momentos de eternidade mergulhados na interioridade.

 

Dá oportunidade aos momentos simples, concretos, profundos, verdadeiros, duradouros e autênticos. De entre esses encontrarás o momento a guardar. Aquele único que dá sentido a toda a vida, ainda que todos os outros de desvanecessem.

 

Momentos que a distracção e entretenimento constante definham, sem nos darmos conta, de tal modo que guardá-los exige cada vez mais esforço de nós. A pergunta inicial que podia ser o mote para uma história de ficção talvez seja uma possibilidade mais próxima da realidade do que pensamos.

 

Qual seria o teu momento inesquecível?

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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