O que me falta é a vontade!

Crónicas 6 novembro 2019  •  Tempo de Leitura: 2

Quantas versões temos? Quantos somos?

 

Quem somos quando nos mudam o contexto ou quando estamos na nossa zona de conforto?

 

Quantas vezes mudamos a cor à alma para agradar mais ou menos a quem está à nossa frente?

 

Quantas versões existem de cada um de nós?

 

Somos coerentes com o que dizemos ou adequamos as nossas caras às caras dos outros?

 

Somos rosto daquilo que defendemos ou viramos as costas às nossas verdades?

 

Quase nunca somos os mesmos. Eu sei. É surpreendente. É isso mesmo que, muitas vezes, conseguimos ser. Uma surpresa. Uma reviravolta inesperada. Um avesso do que éramos antes ou do que julgamos ser o que nos caracteriza.

 

Somos pessoas dentro de pessoas. Como se de dentro do nosso coração pudesse sair sempre qualquer coisa diferente e que nem nós podíamos prever.

 

Temos uma versão para quando nos retiram o bem-estar.

 

Temos uma versão para quando estamos cansados.

 

Temos uma versão alegre e bem-disposta para quando tudo está no lugar certo.

 

Temos uma versão para quando nos retiram a paz e nos declaram guerra.

 

Temos uma versão melhor. E outra mais negra e muito pior.

 

Obviamente, não conseguimos agir sempre da mesma maneira se a situação for diferente, desafiadora ou, até, de dor ou sofrimento. Aquilo que me espanta (e que nos pode espantar) é a quantidade de vezes que as pessoas mudam consoante o que lhes convém. Consoante o que lhes é agradável. Consoante as expectativas dos que têm algo para (lhes) oferecer.

 

Será que sabemos mesmo viver de acordo com a pessoa que somos? Será que sabemos não ser hipócritas? Será que sabemos ser coerentes com o que mora dentro de nós?

 

Nem sempre. Para alguns, quase nunca. Há pessoas que nunca chegaremos a conhecer, ainda que estejamos com elas todos os dias da nossa vida.

 

E tu? És uma versão-esboço daquilo que poderias ser? Não faz mal. Vamos sempre a tempo de fazer melhor. O que nos falta mesmo é a vontade.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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