Ser sem ter
«Tudo o que fazemos é ficar fora de perigo
Tudo o que fazemos é viver dentro de uma gaiola
Tudo o que fazemos é ficar fora de perigo
É tudo o que fazemos, é tudo o que fazemos»
Oh Wonder - All We Do
Não temos oportunidade para sair da nossa bolha.
Não nos dão tempo para saltarmos fora.
Vivemos em constante movimento. Vivemos em constante desconfiança.
Não arriscamos, nem confiamos.
Não expomos com medo de virmos a ser condenados.
É tudo conduzido à perfeição. Há padrões estabelecidos e o mundo procura atingi-los
Tudo tem de ser um modelo. Não há espaço para o meio termo.
Todos têm de ser os melhores e não se valoriza a capacidade de lutar.
Não se valoriza o sacrifício. Não se valoriza o trabalho. Não se valoriza a humanidade que assiste em cada um de nós.
Não se percebe que o erro é a variável que fará a diferença para um futuro com sucesso (não materialista, mas humanista).
Não se tem mais sucesso com menos erros.
Tem-se maior sucesso quando o erro é superado vezes sem conta, mas hoje não nos é dado tempo para isso.
Quer-se tudo para ontem. Quer-se tudo no imediato.
Quer-se tudo com a maior das finitudes, sem se desfrutar verdadeiramente o que vai acontecendo nas nossas vidas.
É preciso voltar a transmitir a importância do tempo.
Só com tempo podemos crescer.
Só com tempo podemos amadurecer as relações.
Só com tempo podemos fortalecer a confiança no outro.
Só com tempo podemos ser humanos.
E esta humanidade só acontece quando nos apercebemos que não nos podemos esconder para a vida e para o mundo.
Esta humanidade só se faz presente quando arriscamos na partilha e na doação.
Esta humanidade só é real quando usamos as nossas "asas" para voarmos em direção aos nossos sonhos.
Ser-se humano é das coisas mais difíceis de se ser, mas das mais desafiantes e mais misteriosas do mundo.
Por isso, tudo o que temos de fazer é deixar de ter para passarmos a ser...