Falar de Amor…

Crónicas 16 julho 2019  •  Tempo de Leitura: 3

Uma reflexão sobre o Amor ou a ausência dele. Da paixão desenfreada ao calculismo histérico.


Tenho reparado que uma das coisas mais difíceis dos nossos dias é falar de Amor. Não só com e entre os jovens, mas acima de tudo no mundo dos adultos. É destes que os mais novos aprendem, não é? Ou, deveria ser…


O tema é muito recorrente na música. Porém, até nelas ouvimos uma descrição dorida, exasperada ou mesmo distorcida. Confunde-se tantas vezes a solidão com a necessidade de se ser acolhido…


Li em tempos que hoje dissecamos o Amor. Tal como numa autópsia, queremos perceber pormenor a pormenor de que amor padecemos. Se bem me lembro, dividimos e separamos o Amor em câmaras hiperbáricas.

Antigamente ao falarmos do Amor, era tudo complexo, animado, fervoroso, cheio de paixão e sofrimento. Hoje é algo desmembrado e asséptico. Temos etiquetas para tudo: paixão, flirt, sentimento, andar, afeição, sexo. Isto sem enveredarmos pela psicanálise, onde quase tudo é racionável e “rastreável”…

E acabamos por transmitir isto aos nossos jovens: o desejo de amar, de nos deixar ir onde o coração nos levar, e ao mesmo tempo, o aviso de "Não queiras amar se estás muito frágil”. “Não te iludas com o amor". "Não esperes demasiado do amor"… Demasiadas recomendações de uma humanidade frágil e doente.


Infelizmente, ensinamos um amor que é físico demais, corpóreo demais, porque somos os primeiros a fazer do corpo a nossa primeira preocupação. Não estamos prontos para envelhecer. A senilidade e a morte aterrorizam-nos…


Mergulhamos as novas gerações na precariedade dos nossos amores, pondo fim aos casamentos com violência e amargura. Enterrando a confiança e a esperança do outro junto com nossos fracassos. Acreditámos que poderíamos escapar das sufocantes e às vezes letais “rasteiras” do Amor, através do desvio pelo sexo, cometendo um grande erro e secando ainda mais nossas consciências.


Contudo, nos nossos adolescentes e jovens, o desejo de amor permaneceu, e acima de tudo, o desejo de ser amado...


Creio que temos de recuperar as palavras dos poetas e das histórias antigas, como nos contos de fadas, para voltar a sentir de forma intensa e até desesperada o desejo de amar e ser amado, mesmo que isso implique o sofrimento e a frustração.


Acima de tudo, no caso do fim de um amor, seria necessário aprender a não humilhá-lo e privá-lo de sua dignidade, conservando a sua beleza e o seu ensinamento como memória e aprendizagem.


O encontro com o outro deixa-nos sempre uma mensagem no coração. Cabe a nós valorizá-lo.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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