A Eucaristia - Quem é Jesus para mim?

Crónicas 27 junho 2019  •  Tempo de Leitura: 5

A festa popular de São João "atrasou" a minha crónica desta semana. Porém, teve a virtude de me permitir aprofundar a reflexão acerca dos textos que ouvimos nestes dias santos: Solenidade do Corpo de Deus, Domingo e, naturalmente, Festa de São João.

 

João Baptista pouco se identificaria com estas festas, principalmente aquela que eu mais vibro, "A Bugiada e a Mouriscada / São João de Sobrado". O Percursor nunca se preocupou com as coisas deste mundo. Viveu pobre e no deserto. Alimentou-se de mel e gafanhotos e vestia-se com pelos de camelo (Cf Mc 1, 6). Portanto nada de sardinhadas, febras e roupas de festa. Com isto não me quero opor à diversão destes dias, mas salientar o essencial para o cristão.

 

João apontava para Jesus; encaminhava o nosso olhar e a nossa atenção para o Senhor. «Ele é aquele que vem depois de mim, o qual não sou digno de desamarrar a correia das sandálias». (Jo 1, 27) 

 

O Evangelho do domingo passado dizia: «Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: "Quem dizem as multidões que Eu sou?"» (Lc 9, 18). Aqui está a pergunta dramática! Aqui está a essência do ser cristão! Quem é Jesus para mim? Toda a minha fé e toda a minha existência humana e cristã circula à volta da resposta que dou a mim mesmo a esta questão… Que posso dizer de Jesus? Como o testemunho? Que obras demonstram a minha fé nEle? Que sei dEle? Como o posso conhecer melhor para assim vivê-Lo no meu quotidiano?

 

Temos que conhecer melhor Aquele em quem acreditamos. João Baptista testemunhou com a vida Aquele que anunciou. Antes indicara a André e a Simão Pedro quem era o Cordeiro de Deus (Cf Jo 1,35-37). É Jesus Cristo aquele que devemos seguir e conhecer melhor!

 

A solenidade do Corpo de Deus (Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo) que celebramos na quinta feira passada é essencial para a vivência cristã/católica. É fundamental para saber quem é Jesus. A Bíblia deve ser lida como oração mas não só. Devemos estudar o texto sagrado. Se olharmos com atenção as leituras desta solenidade, perceberemos que a Eucaristia é o centro da nossa fé. Vejamos.

 

A 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios é datada, pelos estudiosos dos textos sagrados, na metade da década de 50. Ou seja, vinte e poucos anos depois da Páscoa de Jesus. É um dos textos mais antigos do Novo Testamento. O Evangelho de Marcos que é o mais antigo dos quatro, os mesmos estudiosos, datam-no no final da década de 60. Então, o que é que Paulo transmite? «Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim". Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: "Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim"». (1 Cor 11, 23-25) Ora, Paulo não transmite uma coisa qualquer que esteja já escrito. Ele passa aos Coríntios um gesto identitário da comunidade cristã. Paulo que se converteu pouco tempo depois da morte e ressurreição de Jesus, talvez ainda na década de 30, transmite aquilo que era a identidade dos primeiros cristãos: A Eucaristia!

 

Os cristãos nascem da páscoa e prolongam aquele ato de nascimento à volta de uma mesa onde se comunga o corpo do Senhor e se bebe o seu sangue. A memória de Jesus está viva nos alimentos. É claro que a desproporção entre estes alimentos e o Corpo e Sangue de Jesus é enorme. É por isso que o mistério da Eucaristia nos ultrapassa. No entanto, o Senhor entra na vida de seus amigos - entra na nossa vida - através de algo banalmente quotidiano: pão e vinho. 

 

Portanto, não é o Senhor quem reivindica distância, antes pelo contrário, Ele oferece a sua proximidade no pão e no vinho. Se quero conhecer melhor Jesus, se quero conhecer melhor Deus, devo-me aproximar da Eucaristia. Foi assim com os primeiros cristãos, será assim também connosco.

 

Antes de conhecermos as regras e os preceitos; antes de debitar tantos moralismos; antes de sermos conservadores ou progressistas… devemos aproximar-nos da Eucaristia. Devemos aproximar-nos de Jesus.

 

A partilha do pão, na Eucaristia, é o nosso gesto identitário. Deve "constar no nosso cartão de Cidadão (Cristão/Católico)".

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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