A Imaculada Conceição na Bandeira Europeia

Crónicas 28 maio 2019  •  Tempo de Leitura: 4

O "choque" deste fim de semana foi a abstenção. Deixando a Res partidária de lado, preocupa-me a Res Publica. Preocupa-me o alheamento de muitos cristãos católicos!

 

A verdade é que são estas estruturas democráticas que regem o nosso dia a dia. Ou seja, é o Parlamento Europeu, e depois o Parlamento Português e o respetivo Governo daí resultante que determinam as normas e regras da nossa vida em sociedade. Todo o cristão DEVE ter um papel ativo nesta condução do Povo de Deus, peregrino nesta terra.

 

Creio que este alheamento é consequência, em primeiro lugar, da ignorância do que é a União Europeia; do que é que esteve na sua origem; quais os objetivos do seu surgimento. Em segundo lugar, fruto do grande individualismo, egocentrismo, imediatismo e outros "ismos" vigentes na nossa sociedade.

 

A bandeira com o circulo estrelado sobre um fundo azul, inspira-se nos símbolos da Imaculada Conceição: a coroa com as doze estrelas e o manto de Nossa Senhora. Os autores do símbolo do Conselho da Europa à setenta anos atrás, eram devotos da Imaculada. Paul Levy, judeu belga, convertido ao catolicismo durante a II Guerra Mundial e o desenhador Arséne Heitz, que trazia sempre consigo ao peito, a Medalha Milagrosa.

 

A adoção desta bandeira pelo Conselho da Europa foi a 8 de Dezembro de 1955, dia em que a Igreja Católica festeja a Imaculada Conceição de Maria. Em 1985 veio a ser a bandeira oficial da Comunidade Europeia. Simples coincidência?

 

Foi o sonho de conseguir uma união europeia que muitos cristãos católicos trabalharam arduamente: Schuman, Adnauer, De Gaspari e muitos outros. Personagens que não quiseram propagar a sua pertença religiosa, mas ser fermento que faz crescer o serviço e a fraternidade. Nada de integralismos. O apelo aos símbolos católicos não é uma reivindicação a uma primazia, mas a oferta de um terreno comum, onde todos podem viver sem pensar em raças, credos e origens. Esquecemos que é graças à União Europeia que a Europa vive o seu maior período de paz da sua história, onde se promove a segurança, a saúde e a educação…

 

A segunda causa desta abstenção é a "salvação individualista" que parece caracterizar os católicos e demais cristãos.

 

Segundo Raphael Lioger, investigador francês, as religiões caracterizam-se por 3 tendências - o cristianismo não está isento: O Espiritualismo onde a experiência religiosa procura o bem estar espiritual; O "Carismatismo" que dá o poder aos membros de disporem de um acesso privilegiado aos dons particulares e personalizados do Espírito, e o Fundamentalismo, onde a religião é vivida como experiência espiritual e civil de uma forma totalitária.

 

Na cultura ocidental, onde nós nos situamos, o Espiritualismo é o mais frequente. Tal como procuramos o bem estar material, procuramos a paz interior longe das misérias da história e da vida do nosso mundo. Esta mensagem fala ao individuo e não à pessoa enquanto ser em relação com os outros; fala à família restrita e não à comunidade enquanto construção da sociedade. Por isso este alheamento do coisa pública

 

Enquanto cristãos não podemos viver a Igreja como um oásis onde nos refugiamos do deserto que é a vida no mundo: O Kerigma - a Páscoa, morte e ressurreição do Senhor - não foi para ficar dentro do Cenáculo, mas para ser proclamada em palavras e ações a todo o ser humano de boa vontade.

 

Devemos pois, assumir as nossas obrigações no mundo e no nosso país em particular.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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