Um Mandamento Novo

Crónicas 21 maio 2019  •  Tempo de Leitura: 4

«Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros». Jo 13, 34-35

 

O Evangelho deste domingo é como que "a cereja no topo do bolo" por coincidir com o inicio da última semana de campanha política para as eleições europeias. É que na semana passada houve dois acontecimentos que mexeram com os políticos e os católicos.

 

Itália em plena praça do Duomo de Milão, o ministro do Interior (equivalente ao nosso da Administração Interna) com o Rosário na mão, confiou ao Imaculado Coração de Maria todo o país bem como a vitória do seu partido nestas eleições. Puro populismo para alguém que pretende cativar os católicos, mas que ao mesmo tempo diz não querer receber mais nenhum refugiado que seja recuperado no mediterrâneo e ameaça com a expulsão todos os outros.

 

A página do facebook do Patriarcado de Lisboa, partilhou uma publicação da Federação Portuguesa pela Vida que comparava os diferentes partidos quanto a posições como o aborto e a eutanásia, parecendo indicar um sentido de voto. Um erro, assumiu o patriarcado.

 

Um erro, digo eu, por ser uma divulgação parcial da Doutrina Social da Igreja num momento de eleições que são importantes para o futuro da Europa e de Portugal. É dever de todo o cristão defender o dom da vida! E devemos ter isso em conta no momento de colocar o cruz no boletim de voto. Não podemos ter medo de defender a vida!

 

No entanto, o "Direito à vida" não se limita ao debate fraturante do aborto e da eutanásia. A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, aprovou e divulgou um texto muito interessante sobre esta questão. Na Carta Pastoral «Um olhar sobre Portugal e a Europa à luz da Doutrina Social da Igreja» é destacado que toda a vida humana tem igual valor. Por isso, temos que ter em atenção a sua defesa não só nos dois temas acima transcritos, como o caso dos refugiados, dos imigrantes, de todos os fragilizados como doentes, idosos ou deficientes. E a vida não é apenas uma questão biológica mas também de acesso à cultura, à saúde, à alimentação…

 

Como nos escreveram os nossos bispos, os cristãos devem estar atentos aos nacionalismos de exclusão, como parece ser o caso do ministro Salvini em Itália. Devem estar atentos a estes crescentes nacionalismos autoritários e populistas, acompanhados de discursos xenófobos porque "a intolerância alimenta-se do ódio, e o ódio alimenta-se do medo, num ciclo vicioso difícil de romper".

 

Se é verdade que não nos podemos deixar enganar por lobos em pele de cordeiros, também o é quando nas nossas ações e opções demonstrarmos aquilo em que acreditamos. Se é verdade que a Igreja não deve indicar o ou os partidos em quem votar, é essencial, com imprescindível cautela na comunicação e na partilha, defender a dignidade da pessoa humana, porque enquanto instituição humanista inspirada em Jesus Cristo, tem o dever de esclarecer todos os católicos sobre as diferenças sem ambiguidades.

 

Não foi isto que Ele nos deixou: Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei? 

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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