«Eu sou a luz do mundo.»

Crónicas 9 abril 2019  •  Tempo de Leitura: 3

A semana passada li uma crónica italiana sobre as homilias das missas em Itália. Segundo o autor, que não se fundamenta em qualquer estudo científico, as homilias falam de um cristianismo fora do mundo. E uma das consequências é que os católicos estão a deixar de ter uma intervenção política.

 

Aproveitando a Quaresma, procurei estar mais atento às homilias deste fim de semana, seja na minha participação dominical, seja na rádio e televisão. Honestamente, fiquei com a ideia de que os pregadores preocuparam-se em anunciar uma mensagem de perdão que deve ser praticada no dia a dia. No entanto, nos diálogos que fui tendo com amigos e conhecidos que são católicos praticantes, fiquei um pouco mais de acordo com o que o cronista escreveu no seu texto. Isto é, há um desfasamento entre o que se vive na igreja e o que se vive no quotidiano.

 

Segundo o Missal Romano, a Eucaristia inicia com a Liturgia da Palavra. Ouve-se a Palavra de Deus nos Antigo e Novo Testamento e depois do Evangelho segue-se a homília. O objetivo desta vai muito além de uma exegese inteligente dos textos, principalmente para que se perceba o Antigo testamento. A finalidade é, também, o de anunciar a Palavra, o que normalmente para os teólogos se chama de Kerygma. Oferecer, a quem ouve, uma chave interpretativa do presente existencial e histórico e dotar-nos com linhas guia para a ação no mundo real.

 

Quando as homilias nos conduzem a pensar a Igreja ou igreja, como refúgio ou fuga do mundo, e a salvação como um trabalho pessoal e íntimo, desenraizada da história do mundo, alguma coisa vai mal. Como seremos sal? Como seremos fermento? Como seremos luz, se a nossa relação "tão pessoal" com Deus parece prescindir totalmente do mundo que está "lá fora"?

 

Corremos o risco de transformar Jesus, Maria e os Santos em objetos devocionais, com rezas, ritos e cultos estereotipados que nada dizem à nossa vivência no e com o mundo. Precisamos de ser estimulados a viver a história humana numa tensão ética e intelectual, pessoal e comunitária que questione o mundo e o transforme.

 

Escreveu o cronista que não havendo este "desafio" os cristãos saem da igreja como entraram. A Palavra de Deus em nada "interferiu" nas suas vidas. Verdade é que muitas vezes me interrogo por que é que estou ou vou à igreja. Será que é apenas para cumprir com o preceito e assim "estar de contas certas" com Deus? O que é que esta vivência em comunidade influencia o meu dia a dia?

 

Se não for na igreja ou na Igreja o local onde procuro a luz para o meu caminho, vai ser num outro lugar. E esta é, tantas vezes, a realidade: vê-se que esta luz é procurada na televisão, nos meios de comunicação, nas redes sociais… E isto para não falar no tarot, nas cartas, nos búzios, nos "videntes", "bruxos" e bolas de cristal…

 

Que a Quaresma nos ajude "a encontrar o norte": «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.» Jo 8, 12.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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