O que há de bom quando tudo é mau?

Crónicas 6 fevereiro 2019  •  Tempo de Leitura: 2

Estamos habituados a não conseguir lidar com o que não nos faz bem. Ou com o que consideramos como mau ou terrível. Parece-me aceitável que nos seja mais fácil conviver quando tudo está bem e quando não há vislumbre de tempestade. É como se nunca precisássemos de nos preparar para viver as coisas boas e alegres e, pelo contrário, é como se nunca estivéssemos bem preparados o suficiente para viver o que os dias nos trazem de pesadelo ou de tristeza. No entanto, e ainda que nos pareça compreensível que assim seja, não nos leva longe este caminho.

 

Haverá momentos em que se tornará urgente saber como retirar o bom de um universo de acontecimentos ou momentos maus. É certo que podemos optar por não o fazer. Por mergulhar num estado de pena que não levanta voo e que nos consome a vontade de querer procurar um dia melhor ou mais feliz. Mais uma vez, não chegaremos muito longe, se assim decidirmos. Arrisco-me até a dizer que não chegaremos a sair do mesmo sítio.

 

Como é que se retira alegria de um momento escuro? Como é que se vê luz? Como é que se contraria esse descer para uma espiral de tudo o que é negativo?

 

Talvez seja uma questão de disciplina e, também, de vontade. Se eu quiser focar-me, apenas, no que me está a acontecer de mau, esse momento tornar-se-á ainda pior, ou mais difícil. Se eu não quiser educar-me para ver o que essa tragédia ou essa dor me pode ensinar, acabarei por me tornar refém do que quero afastar.

 

Não sei se vai ser sempre fácil mas sei que vai ser sempre necessário. Vai ser sempre urgente encontrar um fiozinho de esperança ou um tracinho de alegria (ainda que muito ténues).

 

Talvez ajude se fizermos a pergunta certa. Ou se quisermos ter coragem para a fazer e, mais ainda, para responder.

 

O que é que eu vi de bom quando tudo estava mal?

 

Quem é que eu vi que me fez bem, quando tudo estava mal?

 

As respostas serão diferentes para cada um de nós. E ainda bem.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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