Porque não amamos até ao fim?

Crónicas 18 janeiro 2019  •  Tempo de Leitura: 3

Há cada vez mais pessoas idosas a viver sozinhas e isoladas. A sua solidão, porque não é escolhida, é uma condenação dos outros e da sua própria família. Alguns aceitam-na como condição quase natural da sua idade e pela determinação que têm em não ser peso para ninguém, menos ainda para aqueles que amam.

 

Mas será que o amor é só para os tempos bons? Quantos destes homens e mulheres, que hoje vivem abandonados, colocaram todas as suas forças ao serviço dos seus filhos sem olhar aos sofrimentos e sacrifícios que a sua dedicação lhes exigia. Filhos esses que, agora, os preferem longe.

 

Em outubro de 2018, foram sinalizadas 45.563 pessoas idosas a viver sozinhas ou isoladas em Portugal. Um número assustador pelo que revela, não dessas pessoas, mas dos outros que deviam combater esta realidade em vez de a ignorarem.

 

No inverno, chegam aos nossos hospitais muitos idosos desnutridos e em hipotermia. Tristes, muito tristes. Pior, estão resignados a esta condição de desconsolo. Por isso, agradecem cada sorriso e minuto de atenção… como se sentissem que não os merecem.

 

A fome, o frio, a tristeza e a solidão são problemas cuja solução se conhece e pode ser aplicada, melhor ou pior, por quase todos nós. A doença pior é a que faz com que quase todos nós fiquemos indiferentes, que nos recusemos a dar apoio, familiar e institucional.

 

Alguns lares de idosos parecem cemitérios de vivos… talvez até com menos visitas. Que diz isso de nós?

 

Preservamos as nossas crianças de conviver com os idosos, como se a velhice fosse contagiosa. Talvez com medo de que as crianças nos peçam depois para haver mais encontros daqueles. Até porque os velhos têm tempo e paciência para as crianças, e isso aborrece-nos, porque nós não temos.

 

O que é preciso para que mudemos esta nossa forma de pensar? Será necessário chegarmos nós a velhos para o perceber? Talvez, então, seja justo que soframos o mesmo ou pior. Até porque estes, no seu tempo, não abandonaram os seus.

 

Se garantimos, e bem, aos reclusos dos estabelecimentos prisionais refeições quentes e acompanhamento permanente de saúde, por que razão não o conseguimos assegurar aos nossos velhos?

 

Dizemos que amamos, mas amar é amar até ao fim. Aconteça o que acontecer.

 

A maioria de nós afirma com convicção que ama, mas será isso verdade? Afinal, se um amor acaba é porque nunca chegou a existir.

 

Mais valia que assumíssemos que não somos nem capazes nem dignos de amar.

Artigos de opinião publicados no site da Agência Ecclesia e Rádio Renascença.

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