Graças a Deus que há ateus

Crónicas 9 novembro 2018  •  Tempo de Leitura: 3

Graças a Deus que há ateus. Não o digo de forma irónica, nem quero com isto achar que não terão "salvação", nos últimos momentos, aqueles que não acreditam no Pai. Até porque não penso que ninguém à face da Terra rejeitaria Deus, se tivesse verdadeiro conhecimento do Seu amor por cada um de nós. Como tal, crer ou não crer dispõe uma disponibilidade e uma entrega de livre vontade. É, por isso, um ato de plena liberdade. Faz parte das vivências e daquilo que poderá ser mais ou menos a nossa predisposição para que Ele possa, verdadeiramente, fazer parte das nossas vidas. É algo que vem de dentro. Vem de uma aceitação total naquilo que sou, onde incluo inteligência, vivências e convivências, corpo e alma. 


Posto isto, é, efetivamente, de dar graças a Deus pelos ateus, porque através deles conseguimos aprofundar e questionar a nossa fé para que ela não fique estagnada. E, acima de tudo, para termos plena consciência da loucura que depositamos n'Aquele em quem acreditamos. 


A loucura da nossa fé baseia-se num Deus que, na sua entrega total, morreu numa cruz, e a verdade é que sem isto não haveria fundamento, nem razão para professarmos um credo. E nesta interação com aqueles que não acreditam podemos perceber que, muito mais do que esta loucura ser ou não de todos (porque Deus, inegavelmente, é de todos e para todos), é entendermos que numa ou outra circunstância das nossas vidas existiu ou não um "clique" ou um sopro do Espírito Santo que nos voltasse o olhar para aquilo que vai muito para além do que podemos contemplar.  


Caminharmos com aqueles que não acreditam é termos verdadeira consciência das dúvidas e dos medos que nos abalam enquanto humanos. É sabermo-nos colocar perante aqueles que têm dificuldade de aceitar um mistério que em nada é palpável. 


Darmos graças a Deus pelos ateus não é para realizarmos um culto de superiorização. Não devemos dar graças a Deus pelos ateus para nos vermos como mais sortudos ou mais importantes por termos o dom da fé, mas é, isso sim, sentirmo-nos iguais na certeza de que esta só evolui e só caminha, quando muitas das vezes conseguimos colocar a nossa vida nesta negação e neste questionamento sobre a existência de Deus em nós, no outro e no Mundo.  


É graças aos ateus que vivemos mais conscientes da loucura que alimenta e dá sentido a toda a nossa vida!

Nasceu em 1994. Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano. Psicólogo no Gabinete de Atendimento e Apoio ao Estudante e Coordenador da Pastoral Universitária da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. Autor da página ©️Pray to Love, onde desbrava um caminho de encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus.

 

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