O amor é assim

Crónicas 21 outubro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

Se um dia me dissessem que ia amar uma ruiva quase loira de caracóis e voz esganiçada eu dizia que era mentira. Dizia que era outra personagem de outro filme, que eu não era certamente.


Sempre fui pessoa de me apaixonar facilmente, pelas pessoas, pela vida, pelas aventuras e desventuras, pelos animais, pela natureza, por tudo mas amar verdadeiramente isso não é coisa fácil. Isso é algo que não é só olhar e gostar do que se vê, é gostar para além do que se gosta, é gostar do que não se gosta e gostar na mesma. É aprender que a razão não importa que só queres que o outro seja melhor e feliz. É o falar até tarde mesmo quando se tem sono e o falar do mesmo assunto durante horas só pra ouvir um sorriso do outro lado. É o ouvir um "pois pois pois" e imaginar uma galinha a cacarejar e rir de tudo o que a mais ninguém dá piada. É ter piadas só nossas mas que só são nossas não por não as querermos partilhar mas porque só são piadas porque nos fizeram rir, provavelmente naquele momento que partilhámos muito duro e que veio quebrar a dureza da situação. É o inventar expressões e mudá-las pro que mais nos convém. É o "giro que dói" passar a curar e o "pelo sim pelo não..."

 

É o ser lá sempre, mesmo que em silêncio por uma semana.


Se me dissessem que a minha Lili ia pra África há um ano, eu dizia "ai que bom". Hoje quando ela me disse "sim, vou pra benguela" o meu coração parou. E não é porque não queira que ela vá ou porque não fique contente, é porque o verdadeiro amor é libertador mas também é aquele que nos atravessa e não nos deixa iguais. É um amor que nos faz crescer juntas mesmo que em caminhos separados.


Daqui até benguela vai um palmo e meio de muito, do meu coração ao teu vai menos de nada porque parte de mim tem-te aqui.


Um dia vou a África, se não for, sei que ao menos parte do meu coração já lá foi.

Joana Redondo Bolacha. Veterinária. Nascida na decada 80 do século passado. O CUPAV e os Leigos para o Desenvolvimento aproximaram-na de Deus, novamente. Faz comunicade na igreja do Rato.

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