De que (nos) vale fazer o Bem?

Crónicas 19 setembro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

Há muitas perguntas que só (nos) fazemos quando as coisas (nos) correm mal. Não é necessário que se abata sobre a nossa cabeça uma tragédia de proporções astronómicas ou uma desgraça que nos sugue o chão. A nossa noção de “correr mal” é, muitas vezes, mais aligeirada e menos grave do que isso.


Digamos que a nossa vida nos corre menos bem quando não encontramos o nosso lugar ou quando este deixa de nos parecer óbvio. Quando não paramos o suficiente. Quando trocamos as prioridades e encontramos sentidos que não combinam connosco. Quando deixamos de cuidar dos amigos e das outras pessoas que são nossas. Quando sentimos dor. Quando nos desiludimos. Quando nos deixamos afetar pelo que não podemos mudar ou pelo que não está nas nossas mãos.


Uma das perguntas que fazemos (ou que nos pode surgir) quando estamos mais zangados é: o que é que eu ganho quando faço as coisas bem-feitas? De que me vale fazer o Bem, afinal?


Vale tudo. Vale tudo a pena. Ninguém pode querer fazer o Bem à espera de ganhar recompensas ou compensações mágicas e instantâneas. Com a vida não se pode usar o argumento: “eu fiz tudo bem…porque não posso ter o que quero, o que preciso?” ou ainda “se eu fiz tudo bem porque razão não recebo igual ao que fiz?”. Lamentavelmente, não é assim que funciona. Se só fazemos o Bem por desejar que tudo o que fizemos nos seja devolvido, mais vale não fazer nada. O Bem não é coisa que se grite ou que se fotografe. É um tesouro calado que não se compadece dos nossos egoísmos e das nossas vontades. Assim, a resposta a todas estas perguntas é bastante simples:


Não posso ter o que quero porque ainda não chegou a hora. O momento certo. Não recebo igual porque receberei dez vezes mais do que aquilo que soube dar. Pode é não ser já. Pode é não ser no meu tempo.
Em forma de conclusão, mais vale não esquecer:


Só se pode fazer o Bem. Menos do que isso é ar. É vento que não (nos) agarra.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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