A vida acontece

Crónicas 3 setembro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

Desapega que a vida flui. Só mudamos quando deixamos espaço dentro de nós para outras coisas, novas, diferentes e distintas de tudo o que vivenciámos até agora. Precisamos de deixar-nos mudar e adaptar. Mas quão difícil é ficarmos permeáveis à realidade quando à nossa volta a vida é dura, violenta e injusta? Não sei, mas confio que o truque, a existir, é deixarmo-nos levar pela vida, pelas coisas, pela estrada e pela paisagem.

 

Quantas vezes olhamos a paisagem? Quantas vezes escrevemos, cantamos, dançamos ou viajamos? Ser permeável e deixar a vida fluir é permitir que seja a paisagem a olhar-nos, a música a tocar-nos, as palavras a escreverem-nos, a estrada ou caminho a percorrerem-nos, as pessoas olharem-nos, a música cantarem-nos, a melodia dançarem-nos e os países viajarem-nos.

 

O mundo não acontece senão deixarmos o mundo acontecer-nos. A vida não se vive senão deixarmos a vida viver-nos. As pessoas não nos marcam senão deixarmos as pessoas tocarem-nos. Deixemos a vida fluir. Deixemos a vida acontecer-nos. Deixemos que aconteça, pare, corra, salte e dance. Deixamos a vida mover-nos. Vivamos a vida leve e deixemos que a vida nos leve. Escutemos a música e deixemos que nos percorra o corpo e nos toque a alma. Não deixemos que seja só mais um dia, só mais um abraço, só mais uma mensagem, só mais um sonho, só mais um trabalho. Que a vida é demasiado importante para que seja só mais uma coisa. Porque a vida é uma e não só mais uma.

 

José Tolentino Mendonça escreveu “é inútil impor ao texto um programa de compreensão quando nos é pedido o contrário: que nos exponhamos a texto na nossa fragilidade, a fim de receber dele, à maneira dele, um eu mais vasto”. Façamos assim com a vida. Exponhamo-nos à vida tal e como somos, com fragilidades, medos, cicatrizes, defeitos e erros. Não importa quem somos mas sim o que queremos ser e para onde nos queremos dirigir. Então exponhamo-nos. Mostremos quem somos sem medo do que possam pensar. Que a vida não se trata de lamentarmo-nos pelo que não somos mas sim de caminhar, pouco a pouco, rumo ao que e a quem queremos ser.

paula ascenção sousa. a minha religião é o amor. cresci católica, descobri-me missionária. acredito e vivo o amor sem rótulos, sem barreiras, para todx. vivo do amor,  por amor e com amor e para amar.

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