Um leigo com categoria de cardeal

Crónicas 11 julho 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Produziram-se muitos documentos, desde o concílio Vaticano II, sobre o papel dos leigos na vida da Igreja. A principal tese é a de que estes não se devem subalternizar ao clero, mas sim partilhar responsabilidades. Contudo, apesar de os leigos serem o maior número na Igreja, e os mais competentes em certas áreas, os cargos de maior responsabilidade, com raras exceções, continuam a ser reservados aos clérigos.

 

No entanto, o Papa Francisco deu, agora, um importante passo na promoção laical ao nomear um leigo, Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação. Os dicastérios são uma espécie de ministérios da Santa Sé, tutelados por um prefeito, que normalmente é um cardeal ou, pelo menos, um arcebispo.

 

O Dicastério para a Comunicação foi criado pelo Papa Francisco em 2015, como resultado de uma profunda reorganização de toda a comunicação da Santa Sé. Congrega e coordena todos os meios de Comunicação Social do Vaticano e toda a produção editorial e informativa nas mais variadas plataformas. O seu primeiro prefeito foi Dario Edoardo Viganò, um arcebispo que se demitiu depois do escândalo da divulgação parcial de uma carta de Bento XVI.

 

Paolo Ruffini é casado, licenciado em Direito e jornalista italiano. Recebeu diversos prémios de jornalismo e participou em vários congressos sobre o papel dos cristãos na informação, a ética da comunicação e os novos média. Trabalhou em vários órgãos de comunicação italianos. Já dirigiu canais de rádio e de televisão, como o estatal RAI 3. Deixa, agora, a direção da TV2000, a televisão da Conferência Episcopal Italiana, para assumir a delicada missão de coordenar e dinamizar toda a comunicação da Santa Sé. Pela primeira vez, um leigo assume um Dicastério da Cúria Romana.

 

"Francisco é um Papa político. No bom sentido do termo: um Papa preparado para governar. Por isso, é capaz de tomar decisões históricas no momento certo, enquanto mantém outras no congelador, até que chegue a sua hora". É esta a leitura de José Manuel Vidal, diretor do sítio de informação religiosa "Religión Digital". Para o Papa é a hora de passar das palavras aos atos e confiar aos leigos as responsabilidades que eles podem assumir como ninguém.

 

Ninguém melhor do que um jornalista para assumir um "ministério" que exige competências técnicas como o que agora é confiado a Paolo Ruffini. Dificilmente um cardeal ou um arcebispo poderá desempenhar melhor um papel do que alguém que passou por diversos órgãos de Comunicação Social em que foi aprimorando as suas qualidades. Alguém que assumiu responsabilidades de direção. E que, no exercício dessas funções, revelou uma grande humanidade e capacidade de ouvir e de valorizar todas as opiniões.

 

O Papa já deu muitos sinais de que quer promover o papel dos leigos e das mulheres no interior da Igreja. Este é mais um passo ousado nesse sentido, mas coerente com o seu discurso. Um sinal claro do Papa que a Igreja não pode prescindir dos leigos, sobretudo nos lugares mais destacados e importantes do seu Governo.

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