As «vacinas religiosas» (1)

Crónicas 29 maio 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Os meses de Maio e de Junho são, por excelência, dedicados aos Sacramentos. Tenho participado nas últimas semanas em celebrações onde alguns dos meus alunos ou filhos de amigos são recebidos, alimentados e confirmados na fé de Jesus Cristo.

 

Depois da Páscoa quase todas as comunidades cristãs celebram as primeiras confissões, os batismos, as primeiras comunhões e os crismas. Teologicamente é fácil justificar estes eventos litúrgicos. Para os cristãos, a Páscoa é a fonte de toda a fé e de toda a vida cristã. É dela que "nascem", sobretudo, os sacramentos da Iniciação Cristã. O Batismo acontece em muitas celebrações da Vigília Pascal. O Crisma celebra-se aquando da Festa do Pentecostes, porque foi nesta que o Espírito Santo confirmou os discípulos na sua fé em Jesus Ressuscitado e eles deixando de ter medo partiram a anunciar esta Boa Nova. A Eucaristia, fundamentalmente no que diz respeito à Primeira Comunhão. Esta é a atualização do Mistério Pascal e o alimento da vida cristã e ocorre por alturas da Festa do Corpo de Deus.

 

No entanto, um dos problemas pastorais mais urgentes deste nosso tempo está na admissão a estes sacramentos. Sabemos bem que a validade dos sacramentos não depende da santidade do celebrante, seja este padre ou bispo, nem da vontade de quem os recebe, basta pensar num bebé, mas da obra redentora de Jesus Cristo. De qualquer forma, como estes são sinais da fé, é indispensável que o pedido e a receção de um sacramento aconteçam nesta mesmíssima fé. E todos sabemos que, cada vez mais, os sacramentos são pedidos por costume ou tradição.

 

Poderia aqui enumerar uma série infindável de razões que já ouvi para justificar o "pedido" ou a "exigência" de um sacramento, e creio que catequistas e padres terão mais do que eu. Para muitos "cristãos" batizar um filho, "dar a primeira comunhão", "ficar com o crisma" ou "casar na igreja" é como ir ao supermercado ou centro comercial e "comprar" o produto que nos faz falta. Para muitos, é como "completar a caderneta de cromos" como se a fé fosse um campeonato mundial de futebol. Para tantos outros, é como "ter a vacinas em dia" para nenhum mal nos pegar ou doença atacar.

 

Não tenho dúvidas que é preciso reelaborar toda esta pastoral na perspetiva das crianças e, fundamentalmente, na perspetiva dos cristãos adultos. Sim, dos adultos! Porque são os pais ou os avós, que muitas vezes se preocupam com a administração dos sacramentos nas crianças e nos adolescentes, sem que estes percebam porque o fazem. É tarefa quase impossível dizer a uma criança que a primeira comunhão é importante, se ela não vê os pais a participarem na missa! É trabalho inútil dizer a um adolescente ou jovem que o crisma fortalece-nos na fé, se ele não vê o adulto "apaixonado" por Jesus Cristo.

 

De facto, não existe fé feita apenas de palavras. Ou a fé é encarnada ou não é fé cristã.

 

Na próxima crónica continuarei esta temática. Uma feliz semana. 

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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