Tudo passa?!

Crónicas 10 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 2

Não te preocupes demasiado. Tudo passa. Achamos que não conseguiremos ultrapassar um momento que nos roubou a paz e o sossego. Acreditamos que há episódios dignos de reescrever toda a nossa história. Acreditamos que o que nos acontece e vai acontecendo nos marca para sempre. Com certeza não estarei a dedicar estas linhas aos lugares comuns de cada dia que passa por nós. Dedico-me, isso sim, aos dias que tudo deixam em suspenso. Aos momentos que fazem questionar cada decisão, cada passo, cada trégua.

Não te preocupes demasiado. Tudo passa. Se pudermos voar até ao dia mais importante da nossa vida, onde vão poisar as asas da nossa memória? Recuaremos ao dia em que cruzámos o nosso olhar com o da pessoa que mudaria a nossa vida para sempre. Recuaremos ao dia em que vimos regressar alguém que não víamos há muito. Recuaremos ao dia em que a doença amansou e o sofrimento nos estendeu uma bonita bandeira branca. Recuaremos ao dia em que nos nasceu um filho. Ou um sonho.

Tudo passa. O dia em que vencemos. O dia em que a guerra com alguém abriu mares em nós. O dia em que nascemos. O dia em que perdemos o que achávamos que seria nosso. O dia em que voltámos costas à decisão que precisávamos de tomar. O dia em que decidimos não decidir absolutamente nada. Tudo passa. O que já vimos. O que nos fez rebentar a alma de esperança. O que nos fez querer perder tudo o que tínhamos conhecido até então. Tudo passa.

No entanto, aquilo que nos conforta é o “tudo passa” associado a tudo aquilo que queremos que passe. Se ainda não passou, há-de passar. Há-de ser diferente depois. Tudo passa. É uma premissa de esperança. De alento. De final feliz. Não te preocupes demasiado. Tudo passa. O que talvez não queiramos compreender é que o bom também passa. Também voa. Também se perde. De nós ou do mundo. Tudo passa diz respeito a tudo. Não seleciona nem contém. A verdade é esta mesma: não há nada que não passe.

Fica a pergunta: o que é que eu quero que não passe de dentro de mim quando tudo o resto passar?!

Ou ainda: Se tudo passa, o que é que fica?!

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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