Curiosos são os caminhos que aproximam pessoas

Crónicas 8 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 4

Curiosos são os caminhos que aproximam pessoas com percursos de vida tão diferentes à volta da mesma mesa em alegre comunhão para a fração do pão. Nada como ouvir o tilintar dos copos a brindar à vida, nas mais variadas dimensões que ela tem para nos oferecer. Nestas alturas, há palavras que encarnam na nossa história, tornando-as nossas. Hoje compreendo que, de facto, "as alegrias e as esperanças as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração" (Gaudium et Spes, Proémio, 1).

A vida prega-nos partidas e troca-nos as voltas e um passo mal dado tornou-se num mês e quase meio de isolamento. Confinada às paredes da minha casa para me restabelecer de uma lesão, vi-me obrigada a descobrir novas maneiras de ser cristã. Impedida de ir à missa, aprendi a aceitar a condição de enferma e a ver naqueles instrumentos de misericórdia, que prescindem do seu tempo para nos trazer a comunhão, a beleza inigualável do ministério que aproxima Cristo daqueles que se vêem impossibilitados de ir ao seu encontro. Incapaz de participar nas celebrações da Semana Santa e da Páscoa da Ressurreição do Senhor, aprendi a dar valor às novas tecnologias, que nos permitem acompanhar, na internet ou na televisão, momentos tão essenciais à fé cristã e perceber, no concreto da minha vida, o que é a comunhão dos santos. Tive a graça de beneficiar do cuidado e do carinho da comunidade cristã que me acompanha na fé, que nunca deixou que me faltasse comida, companhia ou alegria. Presenciei, com maravilha, o testemunho de jovens, que, com prontidão, prescindiram das suas atividades lúdicas para se fazerem presentes. Fui testemunha do verdadeiro dom que é amizade, através de colegas de curso, de percurso e de projetos partilhados, que não tardaram em garantir que eu nunca estivesse só. Pude comprovar que, nas alegrias e nas tribulações, a família está sempre presente e que o sangue que nos une é feito de um amor imensurável, de compreensão paciente e de aceitação tolerante, isenta de qualquer juízo de valor.

É fácil ver o lado negativo das coisas, imbuídos em autocomiseração. Difícil é encontrar nas adversidades um vasto leque de possibilidades e oportunidades para abrir os nossos horizontes que, demasiadas vezes, são pequenos demais. Não sei por quanto mais tempo me verei obrigada a permanecer fechada, nem quanto mais tempo terei de contemplar o sol sem sentir o seu calor, ver as árvores a dançar sem sentir a carícia do vento ou ouvir a chuva a cair sem sentir os seus pingos, mas sei que, com a graça de Deus e de todos os que Ele põe no meu caminho, jamais serei privada do som de gargalhadas, de abraços que confortam, de alimento 'comível', de pratos partidos, de anedotas que fazem corar os santos, de alegria e de vida partilhada à volta de algo tão banal como uma simples mesa!

Raquel Dias

Cronista Rezar a vida

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e apaixonada pela escrita. Voluntária na paróquia de São Julião da Barra. Ovelha perdida que reencontrou o caminho. Hoje, de coração cheio e grato, procura transmitir a alegria do Evangelho a todos os que cruzam o seu caminho. \"Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?\" (cf. 8. Evangelii Gaudium)

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