«Que coisa feia os fiéis tristes!»

Crónicas 27 fevereiro 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Este domingo participei na Eucaristia da Nomeação dos Ministros Extraordinários da Comunhão (MEC), na Sé Patriarcal de Lisboa. Gostei de ver o bispo auxiliar, D. Joaquim Mendes,  a saudar à saída todos aqueles que quiseram. Este acontecimento levou-me a refletir sobre a vivência da fé a nível litúrgico.

 

“Cosa brutta i fedeli tristi!", "Que coisa feia os fiéis tristes!", disse o Papa Francisco por diversas vezes, principalmente naquelas missas mais "íntimas" em Santa Marta. Quando se fala da fé cristã e da sua relação com a alegria, corre-se o risco do facilitismo e do laxismo, quer seja na vivência pessoal da fé, quer naquela comunitária. No entanto, este risco, não pode deixar esquecido o anúncio da alegria que é a nossa salvação. A saudação final do bispo é o gesto concreto desta alegria que a Igreja sente ao terminar mais uma celebração da Páscoa de Jesus e do envio dos novos Ministros (MEC). A alegria é importante no anúncio cristão porque representa a resposta dada pelos cristãos ao dom gratuito que é a salvação.

 

Esta alegria é a atitude oposta à agressividade que se vê em alguns cristãos quando defendem o "seu" cristianismo. Estão de tal forma empenhados em defender as suas ideias que esquecem a beleza de serem destinatários da "boa notícia". No fundo a tristeza é a defesa exagerada daquilo que é nosso, e a alegria é o anúncio transbordante daquilo que nosso não é, porque nos é dado continuamente.

 

Por isso a minha felicidade ao ver que muitos dos cristãos, entre eles os novos Ministros (MEC), aderiram a esta saudação com um sorriso fraterno, como era também o de Dom Joaquim.

 

A fé não é uma alternativa entre a "fé objetiva" (as coisas ou pessoas pelo qual acredito) e a "fé subjetiva" (eu acredito). A fé é "intersubjetiva"! Ou acredita-se juntos ou não se acredita. O outro é condição para que exista a minha fé. Portanto, só amando, criando relações com o outro é que posso viver verdadeiramente a fé. Outros amaram-me e acolheram-me primeiro para que eu possa agora amar e acolher. Não escolhi, mas fui escolhido. Esta é a fé cristã. Esta é a fé transmitida pela Tradição da Igreja ao longo dos séculos, no anúncio da "Boa Notícia".

 

Esta fé alegre e "intersubjetiva" deve ser vivida liturgicamente. A boa liturgia não é uma boa ideia de liturgia. A liturgia não é algo que se aprende num curso teológico ou pastoral. A liturgia é um "fazer". São movimentos, gestos, vozes, cores, odores... Não é teatro. A diferença entre teatro e assembleia litúrgica é que no primeiro, existe um ou mais protagonistas e o resto são espectadores, na segunda não devem existir espectadores porque todos são atores. Todos fazem algo. É verdade que muitas vezes as nossas liturgias parecem cópias de um molde pré-elaborado, onde é difícil ver a participação viva e partilhada da assembleia. Uma das razões é o medo que se tem de anunciar e viver com alegria o Evangelho.

 

Não tenhamos medo de viver, com os outros, a alegria deste tempo oportuno que é a quaresma, para assim melhor nos prepararmos para celebrar a Páscoa do Senhor.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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