As dores que despertam

Crónicas 16 fevereiro 2018  •  Tempo de Leitura: 3

Há dores que nos fazem perder o sorriso, mas também nos secam as lágrimas, de tão profundas que são. A vida é dura, quase injusta. Chegam a ser incompreensíveis as tantas adversidades contra as quais estamos obrigados a lutar pela sobrevivência do que somos.

 

Há pessoas que se conseguem manter puras, apesar de terem de passar por vales tenebrosos. Guardam-se na esperança de que, mais adiante, haverá espaço e tempo para continuarem a ser quem são. Uma fé que é força. Uma bondade que é paciência. Um amor, não pelo que são, mas por aqueles a quem dão a sua vida.

 

Certos sofrimentos trazem o dom de nos revelarmos a nós mesmos como mais fortes. Despem-nos de todo o lixo que tantas vezes julgamos ser riqueza, proteção e beleza. O que fica? O que somos e podemos ser, o que persiste e resiste face à tempestade. Não é algo que a sociedade considere digno de contemplar, pois que a verdade crua é sempre algo em que é difícil fixar o olhar.

 

Há mudanças na vida, mais ou menos súbitas, que nos parecem tragédias, mas que depois se revelam como o exato ponto de partida de uma enorme aventura. Sim, quase sempre as longas viagens passam pelo menos um grande deserto árido.

 

O amor é a poesia da vida. Que cada um de nós se faça poema. Há instantes mais valiosos do que coroas de reis… são aqueles em que, de forma simples, chegamos a ser quem somos. Apesar das dores, por causa das dores ou para vencer as dores.

 

Podemos ser as asas invisíveis que outros sentem a elevá-los quando são amados.

 

Da janela que das trevas se abre para a luz pode contemplar-se uma beleza que parece resolver todos os problemas e mistérios da existência. Demora a encontrar. A escuridão tenta ocultá-la. Está no alto. É preciso construir uma escada e depois subi-la…

 

Pode a existência ter um sentido que não somos capazes de compreender? Sim. A inteligência humana é limitada sendo capaz de ter consciência da verdade de outras dimensões que ultrapassam o seu entendimento.

 

As asas que sinto ter, e aquelas que quase oiço à minha volta, dão-me a estranha certeza de que algo não deixa de ser verdade apenas porque não tenho provas.

 

Este mundo não é o todo. No entanto é nele que somos chamados a viver, a amar e a aceitar ser amados.

 

A vida quer viver. Sempre.

 

Desgraçado de quem julga que a vida é sua, que a verdade é determinada pela sua liberdade e que este mundo é tudo o que há.

 

O amor costuma despertar-nos com dores que animam.

Artigos de opinião publicados no site da Agência Ecclesia e Rádio Renascença.

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