As melhores palavras paras as mais difíceis respostas

Crónicas 15 fevereiro 2018  •  Tempo de Leitura: 6

Na conversa com a iMissio, sobre o início da minha colaboração com a página, surgiu, em jeito de sugestão, a ideia de eu poder começar sobre o que me levou a ir viver para Angola. Tinha ido em busca do quê?

 

Estávamos no Verão de 2016 e até ao dia de hoje nunca consegui escrever esse texto, deixando as perguntas em suspenso, durante este tempo.

 

Enquanto uns, ao nosso redor, atingem os seus objetivos sem a necessidade, ou casualidade, de grandes mudanças; outros, seja de que forma for, alcançam incertezas e recomeços.

 

Quando decidi ir, com a família, para Angola segui o meu coração e intuição. Não fui por obrigação ou extrema necessidade de qualquer coisa em especial. Obviamente que quem parte sai em busca de melhores condições financeiras ou outras; mas foi, essencialmente, uma escolha simples que eu idealizava um dia fazer: recomeçar noutro sítio. Conduzíamos uma vida normal, confortável: escola, casa, empregos, amigos, família – maravilhosos.

 

Quando me coloquei estas questões, não me senti capaz de as responder completamente. Sempre que me propunha sentar à frente do computador, para escrever sobre isto, as palavras, simplesmente, não apareciam. Vislumbrava apenas uma série de páginas em branco. Desta ausência das palavras, que teimaram não sair, deixei de forçar e entreguei-as (me) à correria do tempo.

 

Há uns dias, era meia-noite, eu estava na cozinha ao computador, quando a senti chegar sob pezinhos de veludo, e voz ensonada, junto a mim. Deveria estar a dormir profundamente e por isso estremeci. Quando olhei para a sua carita bem adormecida reparei na saliência de umas babas bem expressivas que lhe carregavam o olhar aturdido. Explicou-me que tinha acordado com o zumbido de um mosquito. Recebi, de imediato, a visita daquelas questões que pairavam sobre mim. O tempo estava a dar-me uma maior incerteza. A incerteza e a insegurança de uma mãe que leva os filhos para um lugar onde há risco de malária, sem os conseguir proteger a 100%.

 

 Para um lugar onde um simples mosquito é sinal de uma doença grave e onde a ordem das ruas, por onde corriam e saltavam livres, foi substituída pela desordem de um lugar que não autoriza esses mesmos saltos e correrias genuínas. Um lugar que nos ausentou dos nossos; e nos fez procurar e encontrar novos. Eu não julgo Luanda: a sua realidade é isso mesmo, é a sua verdade; porque é assim que sabe ser. Cada país tem a sua cultura assente nas próprias práticas e valores comuns, e história. Nunca esperei encontrar as minhas preferências noutro lugar que tem as suas próprias normas, bem diferentes das minhas. E nem acho as minhas melhores: são apenas diferentes. Aprendemos, simplesmente, a andar com os sapatos dos outros (e que lição que é).

 

Aqueles pensamentos deixaram-me acordada, toda a noite. É assim que ficamos quando nos sentimos desarmados, sem a certeza de nada. Tal qual como quando iniciamos do zero um qualquer vazio incerto de iniciar algo novo. Um tal vazio que nos outorga a liberdade de (re)começar - e criar algo diferente. O mesmo que nos dá a força para andar em diante e nos faz avançar.

 

E na verdade até parece simples: importa, apenas, descobrir o que amamos na vida. Tanto no trabalho -ou ocupação-, como nas pessoas que amamos. O que nos faz não querer sossegar e continuar a procurar é a razão de, um dia, sabermos que vamos encontrar.

 

Na verdade, devemos confiar nas dúvidas que constituem, no futuro, as nossas maiores certezas que são a confiança do nosso coração, cheio de verdade.

 

É fundamental considerarmos as questões que nos colocamos a nós mesmos. Esta tem sido a lição básica que retirei destes últimos tempos de busca, e que nunca mais perdi de vista: a procura incessante de novas aprendizagens.

 

Mesmo sem estarmos certos de nada, devemos saber procurar, e aprender, de forma ingénua, constante e humilde. O nosso pensamento e o nosso coração sabem no que nos queremos tornar; e acabam sempre por dar as respostas que tardam chegar.

 

Quando todos os instantes incógnitos da nossa vida, que foram ficando sem respostas, se conectam entende-se que apesar de se perder, de ter medo, de errar, e recomeçar do zero, interessa ter a coragem de viver de acordo com os nossos valores, a nossa fé, consciência e empenho.

 

Quando penso naquelas questões - a que não soube dar logo as respostas certas - visitam-me as imutáveis aprendizagens que a minha filha está a tirar, humildemente, de cada dia, (in)certo, vivido num lugar novo e desconhecido.

 

As constantes perguntas sem explicação, ligaram-se. E irão ligar-se sempre. Basta ter fé. Acreditar que as pontas, que ficam soltas, se vão unir, um dia, é ter confiança para continuar a seguir o nosso coração e intuição, mesmo que nos leve para um lugar diferente do previsível - como aquele onde estou agora e me soube edificar as melhores palavras para as minhas, mais difíceis, respostas.

Casada e com 2 filhos. Deixando a vida que tinha, em Portugal, experimenta, desde Setembro 2015, a dimensão de uma família lusa, a viver, em Angola.

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