Quem és tu quando ninguém está a ver?!

Crónicas 3 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 2

Se alguém nos perguntar quem é que somos, talvez nos saia uma resposta rápida e simples. Somos o nome que nos deram e tudo aquilo que esse mesmo nome nos significa. Somos uma palavra que os outros podem chamar e, à sombra dessa palavra, dormem todas as letras que formam o que nos faz ser, exatamente, assim.

No entanto, não andamos por aí a perguntar aos que se cruzam connosco: “olha, quem és tu?! Vamos construindo a resposta a essa pergunta na medida em que nos permitimos conhecer. Na medida em que os outros permitem que os conheçamos. Também não andamos por aí a perguntar ao espelho: “Mas afinal…quem é que eu sou?!”. Temos mais que fazer e essa é uma pergunta que pode dar bastante trabalho e dores de cabeça. Vamos construindo a resposta a essa segunda pergunta à medida do que vivemos, mas sem pensar muito sobre o que esta pode significar.

Além dessas duas perguntas que nos colocam frente a frente com o que nem sempre queremos ver e enfrentar (tanto em nós como nos outros), espreita uma outra:

“Quem é que eu sou quando ninguém está a ver?!”

Quando não estamos diante dos que se cruzam connosco, dos que queremos impressionar, dos que queremos amar, dos que queremos que nos amem… quando não estamos diante de ninguém, somos os mesmos?! Qual das versões é a verdadeira? Aquela que se revela aos que chegam ou a que se impõe debaixo da pele quando ninguém está a ver?! A resposta não será igual para cada um de nós mas talvez possa dar-vos a minha. A nossa pior versão, aquela que não é melhorada nem polida é MESMO a verdadeira. A versão que teimamos, muitas vezes, em disfarçar (para que os outros não se assustem com a nossa verdade) é quase sempre a verdadeira. Ninguém consegue sorrir sempre. Estar sempre bem-disposto. Ter sempre paciência. Encontrar sempre a palavra certa para dizer. Pensar duas vezes antes de reagir. Ter sempre esperança. Ter sempre fé. Ter sempre coragem. Ter sempre vontade. Ter sempre fôlego. Ninguém consegue ser sempre moralmente irrepreensível.

Pois é. Somos muito menos bonitos quando ninguém está a ver. Quando não é preciso mostrar nada. Somos muito mais frágeis. Muito mais limitados. O que nos falta não é a resposta para a pergunta. É a coragem para dizer a resposta em voz alta.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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