Nos nossos padres, a Palavra de Deus é alegria ou acusação?

Crónicas 30 janeiro 2018  •  Tempo de Leitura: 5

Inicio esta crónica esclarecendo que o que aqui escrevo é, só e apenas, o meu ponto de vista sobre os diversos temas. Como católico "praticante" - esta palavra causa-me uma certa "alergia" - procuro refletir a vida quotidiana à luz do Evangelho e dos valores a ele agregados.

 

E começo por explicar porque o "praticante" faz-me confusão. Não conheço nenhum atleta de alta competição "não-praticante": ou é ou não o é. Não conheço um homem ou mulher casados "não-praticantes": ou são casados ou solteiros ou divorciados. Não existem meios termos.

 

Outra coisa é o definir o que é ser praticante. Ir à Missa ao domingo? Ser batizado, ter a 1ª Comunhão e ser casado pela Igreja? Aqui entramos, de facto, no cerne da questão. Todos sabemos que apenas isto... Não basta! E não me demoro mais por aqui, porque os meus textos procuram esclarecer o que é isto de ser "praticante" ou, e apenas, Católico.

 

E é por abordar a questão da Eucaristia que eu quero refletir hoje. Este fim de semana participei na Missa e, por acaso, presenciei à homilia de uma outra. Portanto, ouvi duas homilias.

 

A reflexão feita pelo padre da primeira pregação foi entusiasmante. Além de ligar o evangelho deste domingo ao anterior e ao próximo, que abordará a cura da sogra de Pedro, o pregador preocupou-se por salientar o tempo novo que vivemos. Na semana passada ouvimos: «Cumpriu-se o tempo e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho». (Mc 1, 15) E é graças a este «cumprimento» que vem a necessidade da conversão, da mudança de vida. Jesus revela Deus na sua plenitude. Eis a razão por Ele ter tamanha autoridade no evangelho deste domingo. (cfr Mc 1, 22. 27)

 

A mensagem que colhi foi esta: se estamos no último dos tempos, não posso perder este tempo com a mesquinhez dos meus dias. Tenho que endireitar "as veredas". Tenho que examinar se estou no bom caminho e o que tenho que fazer para corrigir o sentido desta peregrinação.

 

Saí desta Eucaristia "mandatado" a emendar-me e a examinar se sou um bom católico; se vivo na "Alegria do Evangelho". O demónio, naquele homem possuído, nada pode contra Jesus. Não me mete medo. Naquele tempo aliás, segundo estudos recentes, todas as doenças que modificavam a personalidade humana, sobretudo as psíquicas, eram atribuídas aos espíritos impuros. Por isso, muitos daqueles curados por Jesus nem eram possuídos pelo mal. Neste trecho, demonstra o poder de Jesus sobre toda a realidade. Ele é Rei e começou a reinar. O Senhor está a revelar-se. E na atualização da Palavra, continua a revelar-se a mim.

 

A reflexão feita pelo segundo padre foi triste. Mais do que anúncio desta bela notícia, que é o início da vida pública de Jesus e o que ele pretende para nós, foi a "denúncia" da distância entre esta "bela notícia" e nós... A homília tornou-se uma "acusação". O sacerdote pegando na imagem daquele homem possuído passou a explicar que "muitos católicos não se confessam bem e depois não se sentem aliviados". A imagem de Deus, neste "Jesus", foi o de um juiz terrível e quase sedento de "ajuste de contas"...

 

A homília pode partir de uma denúncia, mas deve, acima de tudo, ser anúncio de alegria. Por isso é que tantas vezes vemos os católicos a saírem da Missa como se tratasse de um funeral. Se um crente já tem dúvidas em confessar-se, acredito que fique decidido a não fazê-lo. Fica com a consciência errada de que nunca chegará perto do estado de perfeição que é o Evangelho. Por mais que faça, ficará sempre aquém das espectativas.

 

A palavra do padre tem que ser uma denúncia do que ainda não fizemos, mas alegria por aquilo que já percorremos. A pregação deve ser ela mesma positiva, boa e feliz como é a "boa notícia" que é o próprio Evangelho.

 

A palavra e a vida do cristão tem que ser semente de esperança num mundo cada vez mais triste e sem sentido.

 

Votos de uma semana alegre e esperançosa.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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