Amar-se a si próprio para depois amar o outro

Crónicas 23 janeiro 2018  •  Tempo de Leitura: 4

O título desta crónica pode, à primeira vista, ter pouco de cristão, mas não é verdade.

 

Decorre até 5ª feira, dia 25, mais uma semana de oração pela unidade dos cristãos. Vemos as dioceses e as paróquias empenhadas em encontros específicos de oração e partilha com os irmãos protestantes, evangélicos e ortodoxos.

 

Questiono-me todos os anos se avançamos alguma coisa. E o "avançar" não se refere a um "baralhar as cartas e voltar a dar", como se fosse possível abolir as diferenças e voltar tudo à obediência a... Roma (para ocaso dos católicos). Não! Ainda no ano passado o Papa Francisco esteve presente nas comemorações da Igreja Luterana dos 500 anos da Reforma de Lutero. Não se falou em "fusão" ou regresso àquela unidade inicial.

 

Do meu ponto de vista, a unidade dos cristãos tem alguma similitude com a amizade humana ou o amor conjugal: um só, mas conservando a sua unicidade individual.

 

Quero deixar bem claro que esta perspetiva é pessoal. O problema que se passa na Unidade dos Cristãos é o mesmo que acontece com as nossas relações com os outros. Por esse motivo, escrevo sobre a relação humana que pode ser extrapolada para a relação entre Igrejas Cristãs.

 

Hoje, cada vez mais, acredito que as pessoas não amam o próximo porque não se amam a si mesmas. Parece um paradoxo, porque passamos a vida a ouvir que as pessoas só pensam em si mesmas, no seu umbigo, são muito egoístas, egocentristas, autossuficientes...

 

Mas na realidade e, reafirmo, no meu ponto de vista, as pessoas não se amam verdadeiramente. Por isso é que custa praticar o mandamento de Jesus: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Cf. Mt 22, 37-40). Como posso amar o outro, quando não me amo a mim mesmo? Como posso ir ao encontro do outro se não me encontro a mim próprio? Como posso conhecer o outro se não me conheço?

 

Amar-se verdadeiramente não é ver apenas no que somos bons, mas é reconhecer, aceitar e procurar melhorar o que é menos bom. Se reconhecer que não sou autossuficiente nem perfeito, irei amar o outro apesar das suas insuficiências e imperfeições.

 

Recordo o Papa Francisco na audiência da quarta feira da Semana Santa de 2017: «Cada um de nós pode perguntar-se: amo? Aprendi a amar? Aprendo todos os dias a amar ainda mais? O amor é o motor da nossa esperança. Contemplemos o Crucificado, nascente de esperança. Quando escolhemos a esperança de Jesus, pouco a pouco descobrimos que o modo de viver vencedor é aquele da semente, aquele do amor humilde. Quem ama perde poder. Quem dá, deixa de possuir o que deu, e amar é um dom.»

 

Com estas palavras de Francisco, creio que o título desta crónica já se "torna" cristão. Amar é dar a vida. Se me amo, dou a minha vida e não apenas coisas em situações específicas. Se me amo, amarei o outro como a mim mesmo.

 

Quando penso que me amo, porque amo os meus interesses, as minhas coisas, "encho-me" apenas de mim mesmo, sou autossuficiente e não reconheço o outro. Mas quando me amo de verdade, estou disponível para servir o outro. Vivo à maneira de Deus.

 

Só haverá verdadeira unidade entre as Igrejas Cristãs quando sabermos amar verdadeiramente a nossa.

 

Votos de uma semana orante e plena de amor.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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