Nós nos outros

Crónicas 5 janeiro 2018  •  Tempo de Leitura: 3

"À medida que desenvolvemos maior aceitação por nós 

e pelas nossas limitações, também descobrimos em nós 

mais compaixão para com os outros."

Nancy McWilliams - Psicoterapia Psicanalítica

 

Como são belas e tão desafiadoras estas palavras. 

Conseguirmos ir ao encontro de quem somos é, claramente, o maior de todos os desafios. É nesta descoberta das nossas limitações que, muitas das vezes, eliminamos falsas imagens. É neste confronto com aquilo que verdadeiramente somos que nos apercebemos que existe muito mais do que um "eu" solitário. É neste confronto que surge a perceção da realidade.  

Acredito firmemente que este será o desafio de todos os que querem tocar no céu ou chegar à santidade. É preciso ter esta capacidade de autoconhecimento. É fundamental ter esta capacidade de autoconhecimento, para que possamos chegar até ao outro. Chegar ao outro para além do toque. Chegar ao outro para além do olhar. 

É preciso, mais do que nunca, chegar ao outro através da dor. É preciso, mais do que nunca, chegar ao outro através da mente. Há muito mais em cada pessoa do que aquilo que ela nos mostra. E para se chegar a esse “invisível” é preciso conhecermos profundamente aquilo que deixamos escondido de todo o mundo. É preciso percebermos cada pensamento, cada emoção e cada comportamento.  

Só assim pode existir uma verdadeira compaixão. Chegar bem junto do outro na sua dor entendendo-a e querendo ajudar a suportá-la. 

Uma maior aceitação de nós e das nossas limitações leva-nos a abrir os olhos para o mundo. Uma maior aceitação de nós e das nossas limitações leva-nos a estar onde mais ninguém quer estar. Leva-nos a desafiar tudo e todos, porque deixamos para trás um ego altamente narcisista. 

É disto que este mundo necessita: de aceitação. Não uma aceitação mascarada, mas uma aceitação que leve à verdadeira compreensão do outro e da pessoa que se encontra à nossa frente. 

É preciso valorizar a unicidade que é revelada em cada ser humano. 

É preciso valorizar cada ser humano, tal como é, percebendo, de uma vez por todas, que "somos todos mais humanos do que outra coisa", e como tal, não podemos, nem devemos ser tratados como meras máquinas.

Tenhamos a audácia de nos conhecermos verdadeiramente, para podermos estar de olhos voltados para o mundo. 

Nasceu em 1994. Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano. Psicólogo no Gabinete de Atendimento e Apoio ao Estudante e Coordenador da Pastoral Universitária da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. Autor da página ©️Pray to Love, onde desbrava um caminho de encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus.

 

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