A ironia dos seres limitados

Crónicas 1 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 3

É uma questão recorrente falarmos dos nossos limites. Não raramente assumimos que somos limitados, imperfeitos e frágeis. Arriscarei a dizer que está até um pouco em voga falar dos nossos limites e aprender a aceitá-los, como se fosse algo que nos é inerente. Não tenho nada a apontar a esse facto, eu próprio já falei dessa situação em alguns dos meus textos. No entanto, não quero ser mal interpretado, nem quero que passe uma mensagem errada e que eu não defendo. 

É verdade que somos limitados, todos nós temos falhas. Somos algo inacabado. Isso é ponto assente. Agora, não podemos é pensar que esses limites são eternos e inultrapassáveis. Mais importante ainda, temos de pensar quantos desses limites não existem por nossa própria iniciativa.

É que hoje acordei a pensar na ironia dos nossos limites, os limites que somos nós que colocamos a nós próprios. Pensemos em todas as vezes que dizemos "não consigo", "é muito difícil", "não vale a pena tentar". Pensemos também em tudo o que deixamos de fazer na nossa vida, por acharmos que não somos capazes, que está para lá dos nossos limites. É nesses momentos que surge a ironia dos seres limitados, pois de cada vez que dizemos uma dessas afirmações, estamos a declarar a nós próprios que não conseguimos, nem vamos tentar conseguir e, dessa forma, a nossa mente consciencializa-se, aos poucos, de que não conseguimos mesmo. Quando temos este tipo de comportamento, somos nós próprios que estamos a estabelecer e a perpetuar os nossos limites. 

Agora imaginemos que optamos por uma atitude oposta. Somos criaturas capazes, criativas e confiantes e, assim sendo, gostamos de desafiar os nossos limites. Por exemplo, se não gostamos de falar em público, se nos sentimos particularmente desconfortáveis ao falar para um grupo de pessoas desconhecidas, por que não nos desafiamos e começamos, aos poucos, a fazer algo que coloque esse limite em questão? Por que não começamos a ler em público e a ensaiar uns discursos quando estamos em jantares de amigos?

Este é um pequeno exemplo do que se pode fazer, do desafio que deve ser, para nós, desafiar os nossos limites, os nossos medos e receios. Temos sempre uma palavra a dizer, depende sempre de nós e não é a dizer constantemente que não conseguimos, não gostamos, nem queremos tentar que as coisas que menos gostamos vão desaparecer. É que, muitas vezes, são esses limites que nos separam da nossa felicidade e, por isso, só resta dizer, façamos por ser felizes!

Professor de Português e Inglês, adora correr, ler, escrever, ouvir música, mas acima de tudo refletir sobre as nossas relações com os mais próximos. Sente-se grato pelas suas capacidades e limitações e descobriu que a melhor forma de expressar essa gratidão é potenciar essas capacidades em tudo o que faz, para trazer a felicidade aos que o rodeiam.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail