Missa em Santa Marta: O reino escondido

Vaticano 17 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 7


Uma pergunta recorrente nas meditações do Papa Francisco, durante as missas celebradas em Santa Marta, é o convite a um exame de consciência: «Como vai a minha relação com o Espírito Santo?». Também na homilia de 16 de novembro o Pontífice voltou a propor esta interrogação com uma particular declinação: «Creio deveras que o Espírito faz crescer em mim o reino de Deus?».

 

Com efeito, o reino de Deus foi o tema da sua reflexão, inspirada no trecho do Evangelho de Lucas (17, 20-25) no qual os doutores da lei perguntam a Jesus: «Tu pregas o reino de Deus, mas quando virá o reino de Deus?». Era uma interrogação, explicou, que derivava também da «curiosidade de muitas pessoas», uma pergunta «simples que brota de um coração bom, um coração de discípulo». Não é por acaso que se trata de uma pergunta recorrente no Evangelho: por exemplo, sugeriu o Papa, naquele momento «tão difícil, obscuro» em que João Batista — que estava na escuridão do cárcere e «não entendia nada, angustiado» — enviou os seus discípulos para dizer ao Senhor: «Diz-me: és tu, ou devemos esperar outro? Chegou o reino de Deus, ou será outro?».

 

Reaparece com frequência a dúvida sobre o «quando», como acontece no «pedido descarado, soberbo e mau» do ladrão: «Se és tu, desce da cruz», que exprime a «curiosidade» acerca de «quando há de vir o reino de Deus».

 

A resposta de Jesus é: «Mas o reino de Deus está no meio de vós». Assim, por exemplo, «o reino de Deus foi anunciado na sinagoga de Nazaré, a boa nova quando Jesus lê o trecho de Isaías e termina, dizendo: “Hoje cumpriu-se esta escritura no meio de vós”». Um anúncio bom e sobretudo «simples». Com efeito, «o reino de Deus cresce às escondidas», e é o próprio Jesus que o explica com a parábola da semente: «ninguém sabe como», mas Deus fá-la crescer. É um reino que «cresce dentro, de modo oculto, ou está escondido como a gema ou o tesouro, mas sempre na humildade».

 

Aqui o Papa inseriu a passagem-chave da sua meditação: «Quem faz crescer aquela semente, quem a faz germinar? Deus, o Espírito Santo que está em nós». Uma consideração que explica a vinda do reino com o modo de agir do Paráclito, que «é espírito de mansidão, de humildade, de obediência e de simplicidade». E é o Espírito, acrescentou o Papa, «que faz crescer dentro o reino de Deus, não são os planos pastorais, as grandes coisas...».

 

Trata-se, disse, de uma ação escondida. O Espírito «faz crescer e quando chega o momento aparece o fruto». Uma ação que escapa à plena compreensão: «Quem — interrogou-se o Papa — lançou a semente do reino de Deus no coração do bom ladrão? Talvez a mãe, quando lhe ensinou a rezar... Talvez um rabino, quando lhe explicava a lei...». Sem dúvida, não obstante na vida ele se tenha esquecido dela, num certo momento aquela semente escondida foi feita crescer. Tudo isto acontece porque «o reino de Deus é sempre uma surpresa que vem» como «dom do Senhor».

 

No diálogo com os doutores da lei, Jesus medita sobre a caraterística desta ação silenciosa: «Quando o reino de Deus vem, não chama a atenção e ninguém dirá: “Ei-lo aqui, ei-lo ali”». Com efeito, acrescentou, «o reino de Deus não é um espetáculo» nem «um carnaval». Não se mostra «com a soberba, o orgulho, não gosta de publicidade», mas «é humilde, escondido e assim cresce».

 

Um exemplo evidente vem de Maria. Quando as pessoas a viam seguir Jesus, mal a reconheciam («Ah, ela é a mãe...»). Ela era «a mulher mais santa», mas dado que vivia «escondida», ninguém entendia «o mistério do reino de Deus, a santidade do reino de Deus». E assim, «quando estava próxima da cruz do filho, as pessoas diziam: “Pobre mulher, com este filho criminoso, pobre mulher...». Ninguém entendia, «ninguém sabia».

 

A caraterística do escondimento, explicou o Papa, deriva precisamente do Espírito Santo que está «dentro de nós»: é ele «quem faz crescer e germinar a semente, até dar fruto». E todos nós somos chamados a percorrer este caminho: «é uma vocação, uma graça, um dom gratuito, não se compra, é uma graça de Deus».

 

Eis por que razão, concluiu, é bom que «todos nós, batizados», que «temos dentro o Espírito Santo», nos perguntemos: «Como vai a minha relação com o Espírito Santo, que faz crescer em mim o reino de Deus?». Com efeito, é preciso entender: «Creio deveras que o reino de Deus está no meio de nós, escondido, ou gosto mais do espetáculo?». É necessário rezar ao «Espírito que está em nós e pedir a graça «de fazer germinar com força, em nós e na Igreja, a semente do reino de Deus, para que se torne grande, dê refúgio a muita gente e produza frutos de santidade».

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