«Aqui estou»: Que cada dia comece com o sim de Maria

Vaticano 9 dezembro 2018  •  Tempo de Leitura: 5

A Palavra de Deus apresenta-nos hoje uma alternativa. Na primeira leitura (Génesis 3, 9-15. 20; Salmo 97, 1. 2-3ab. 3cd-4) é o ser humano que nas origens diz não a Deus. No Evangelho (Lucas 1, 26-38) está Maria que, na anunciação diz sim a Deus. Em ambas as leituras, é Deus que procura o ser humano. Mas no primeiro caso vai ao encontro de Adão, após o pecado, e pergunta-lhe: «Onde estás?»; e ele responde: «Escondi-me». No segundo caso, ao contrário, vai até Maria, sem pecado, que responde: «Eis a serva do Senhor». «Aqui estou» é o contrário de «escondi-me». O «aqui estou» abre a Deus, enquanto que o pecado fecha, isola, faz ficar a sós consigo próprio.

 

«Aqui estou» é a expressão-chave da vida. Marca a passagem de uma vida horizontal, centrada em si e nas próprias necessidades, para uma vida vertical, impelida para Deus. «Aqui estou» é estar disponível para o Senhor, é a cura para o egoísmo, o antídoto para uma vida insatisfeita, a que falta sempre alguma coisa. «Aqui estou» é o remédio contra o envelhecimento do pecado, é a terapia para permanecer jovem interiormente. «Aqui estou» é acreditar que Deus conta mais do que o meu eu. É escolher apostar no Senhor, dóceis às suas surpresas. Por isso, dizer-lhe «aqui estou» é o maior louvor que podemos oferecer-lhe.

 

Por que não começar assim o dia? Seria belo dizer a cada manhã: «Aqui estou, Senhor, cumpra-se hoje em mim a tua vontade». Vamos dizê-lo na oração do “Angelus”, mas podemos repeti-lo já, juntos: Aqui estou, Senhor, cumpra-se hoje em mim a tua vontade!

 

Maria acrescenta: «Aconteça em mim segundo a tua palavra». Não diz: «aconteça segundo eu», mas «segundo Tu». Não põe limites a Deus. Não pensa: «Dedico-me um pouco a Ele, despacho-me e depois faço aquilo que quero». Não, Maria não ama o Senhor aos soluços. Vive confiando-se a Deus em tudo e por tudo. Eis o segredo da vida. Pode tudo quem confia em Deus em tudo.

 

O Senhor, todavia, queridos irmãos e irmãs, sofre quando lhe respondemos como Adão: «Tive medo e escondi-me». Deus é Pai, o mais terno dos pais, e deseja a confiança dos filhos. Quantas vezes suspeitamos dele, suspeitamos de Deus, pensamos que pode enviar-nos alguma provação, privar-nos da liberdade, abandonar-nos. Mas este é um grande engano, é a tentação das origens, a tentação do diabo: insinuar a desconfiança em Deus. Maria vence esta primeira tentação com o seu «aqui estou». E hoje olhamos para a beleza de Nossa Senhora, nascida e vivida sem pecado, sempre dócil e transparente a Deus.

 

Isto não quer dizer que para ela a vida tenha sido fácil. Não, não! Estar com Deus não resolve magicamente os problemas. Recorda-o a conclusão do Evangelho de hoje: «O anjo afastou-se dela». Afastou-se: é um verbo forte. O anjo deixa a Virgem sozinha numa situação difícil. Ela conhecia de que maneira particular se tornaria Mãe de Deus, o anjo tinha-o dito, mas o anjo não o tinha explicado aos outros. E os problemas começaram desde logo: pensemos na situação irregular segundo a lei, no tormento de S. José, nos planos de vida acabados, no que as pessoas iriam dizer…

 

Mas Maria põe a confiança em Deus perante os problemas. Foi deixada pelo anjo, mas acredita que com ela, nela, permaneceu Deus. E confia. Confia em Deus. Está certa de que com o Senhor, ainda que de maneira inesperada, tudo correrá bem. Eis a atitude sábia: não viver dependendo dos problemas – terminado um, outro surgirá! –, mas fiando-se em Deus e confiando-se cada dia a Ele: «Aqui estou». «Aqui estou» é a frase, a oração. Peçamos à Imaculada a graça de viver assim.

 

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